quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Declaração da CNBB sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH – 3)

Sex, 15 de Janeiro de 2010



         A promoção e a defesa dos Direitos Humanos tem sido um dos eixos fundamentais da atuação e missão evangelizadora da CNBB em nosso país. Comprovam-no as iniciativas em prol da democracia; as Campanhas da Fraternidade; a busca pela concretização da Lei 9840 - contra a corrupção eleitoral; a recente Campanha “Ficha Limpa”; a defesa dos povos indígenas e afro-descendentes; o empenho pela Reforma Agrária, a justa distribuição da terra, a ecologia e a preservação do meio ambiente; o apoio na elaboração dos Estatutos da Criança e do Adolescente, do Idoso e da Igualdade Racial, entre outros.
         Neste contexto, a CNBB se apresenta, mais uma vez, desejosa de participar do diálogo nacional que agora se instaura, sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3), tornado público aos 21 de dezembro de 2009.
        A Igreja Católica considera o movimento rumo à identificação e à proclamação dos direitos humanos como um dos mais relevantes esforços para responder de modo eficaz às exigências imprescindíveis da dignidade humana (cf. Concílio Vaticano II, Declaração Dignitatis Humanae, 1). O Papa João Paulo II, em seu Discurso à Assembléia Geral das Nações Unidas, em 21 de outubro de 1979, definiu a Declaração Universal dos Diretos Humanos como “uma pedra miliária no caminho do progresso moral da humanidade”.
         O Brasil foi uma das 171 nações signatárias da Declaração de Viena, fruto da Conferência Mundial sobre Direitos Humanos, em 1993, sob o signo da indissociabilidade entre Democracia, Desenvolvimento Econômico e Direitos Humanos.
        No entanto, em sua defesa dos Direitos Humanos, a Igreja se baseia na concepção de Pessoa Humana que lhe advém da fé e da razão natural. Diante de tantos reducionismos que consideram apenas alguns aspectos ou dimensões do ser humano, é missão da Igreja anunciar uma antropologia integral, uma visão de pessoa humana criada à imagem e semelhança de Deus e chamada, em Cristo, a uma comunhão de vida eterna com o seu Criador. A pessoa humana é, assim, sagrada, desde o momento de sua concepção até o seu fim natural. A raiz dos direitos humanos há de ser buscada na dignidade que pertence a cada ser humano (cf. Concílio Vaticano II, Constituição Pastoral Gaudium et Spes, 27). “A fonte última dos direitos humanos não se situa na mera vontade dos seres humanos, na realidade do Estado, nos poderes públicos, mas no próprio ser humano e em Deus seu Criador” (Compêndio de Doutrina Social da Igreja, 153). Tais direitos são “universais, invioláveis e inalienáveis” (JOÃO XXIII, Encíclica Pacem in Terris, 9).
         Diante destas convicções, a CNBB tem, ao longo de sua história, se manifestado sobre vários temas contidos no atual Programa Nacional de Direitos Humanos. Nele há elementos de consenso que podem e devem ser implementados imediatamente. Entretanto, ele contém elementos de dissenso que requerem tempo para o exercício do diálogo, sem o qual não se construirá a sonhada democracia participativa, onde os direitos sejam respeitados e os deveres observados.
        A CNBB reafirma sua posição, muitas vezes manifestada, em defesa da vida e da família, e contrária à descriminalização do aborto, ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e o direito de adoção de crianças por casais homoafetivos. Rejeita, também, a criação de “mecanismos para impedir a ostentação de símbolos religiosos em estabelecimentos públicos da União”, pois considera que tal medida intolerante pretende ignorar nossas raízes históricas.
        Por intercessão de Nossa Senhora Aparecida, imploramos as luzes de Deus, para que, juntos, possamos construir uma sociedade justa, fraterna e solidária.

Brasília, 15 de janeiro de 2010

Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana
Presidente da CNBB

Dom Luiz Soares Vieira
Arcebispo de Manaus
Vice-Presidente da CNBB

Dom Dimas Lara Barbosa
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro
Secretário-Geral da CNBB

Cresce o número de garotos que trocam namoro, sexo e a convivência com os amigos pela formação religiosa. Eles contam por quê

Publicada em 19/01/2010 às 00h37m

Lauro Neto


RIO - Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me". As palavras de Jesus, que teriam sido pronunciadas há mais de dois mil anos, segundo o evangelista Marcos, ainda encontram eco entre jovens que alimentam o sonho de ser padres. Dados do último Anuário Católico (Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais/Promocat) mostram que, de 2000 a 2008, o número de presbíteros saltou de 16.772 para 20.561 - aumento de 22,59%, quase o dobro do crescimento médio da população brasileira no período, de 11,85%. Como o primeiro passo para se tornar um padre é entrar para um seminário diocesano ou para uma ordem religiosa, fomos atrás de jovens em diferentes fases desse processo, que chega a durar 12 anos, como no caso dos jesuítas. Afinal, o que leva um cara em plena juventude a largar a namorada, os amigos, a família e os prazeres da vida mundana para seguir um caminho de provações como o celibato? As tentações são muitas (inclusive as sexuais), e alguns percebem, no meio do caminho, que não têm a vocação sacerdotal. Outros superam as privações da vida em comunidade, como o pouco dinheiro - que pertence a todos -, e continuam firmes na fé. Veja histórias daqueles que seguem o apelo do falecido papa João Paulo II: "Precisamos de santos que bebam Coca-Cola e comam cachorro-quente, que usem jeans e sejam internautas". E conheça as razões de quem pôs em dúvida a vocação religiosa.
O primeiro dia do resto de uma vida casta

Mauricio Fernandes viaja amanhã para Minas Gerais, onde ingressará na ordem franciscana conventual. Aos 22 anos, ele largou o curso de Letras da PUC e o conforto da casa da avó em Botafogo para se dedicar a Deus. No sábado, despediu-se dos amigos e da vida mundana num bar da Zona Sul carioca.
O desejo de ser padre se manifestou há dois anos, depois de Mauricio ter flertado com outras religiões como espiritismo, umbanda e judaísmo, além de um período de quatro meses fora de casa por desentendimentos com o pai e a avó. Como na parábola bíblica, o bom filho à casa tornou, renovado.
- Sonhava com o teatro, tinha feito vestibular para a Unirio, mas não passei. Eram muitas dúvidas em relação ao mercado de trabalho e à vida afetiva, pois queria encontrar uma namorada. Nessa fase turbulenta, me encontrei mais com Deus, buscando uma resposta - ele recorda.
Nesse período, Mauricio namorou duas meninas, mas sua maior adoração foi a São Francisco de Assis, santo que conhecia desde os tempos de criança, quando estudou no Colégio Santo Amaro, da ordem beneditina. Fez retiros no Mosteiro de São Bento, mas o silêncio, o claustro e o latim não o seduziram. Foi então que achou em casa uma revista franciscana em que havia um convite para um encontro vocacional. Mauricio participou de quatro, antes de dar seu "sim" a Deus no último 4 de outubro, dia do santo.
- Quando vi os freis dando a benção aos animais, fiz uma contemplação e me vi transportado para a época de Francisco de Assis. Orando com a imagem do santo, senti que era o meu momento - ele diz.
Desde então, ele se apaixonou por uma menina e ficou com outra:
- Fiquei pela necessidade hormonal, mas em momento algum coloquei o afeto por alguém acima da vocação. A partir de amanhã, terei uma vida absolutamente casta.

Hora de repensar

Quando Rafael Barros decidiu entrar no Seminário São José, em 2008, seus amigos e familiares não botaram muita fé. Sambista criado em Copacabana, ele deixou para trás um namoro de cinco anos e um noivado de dois pelo desejo de ser padre.
- Meus vizinhos, que sempre me viam chegar com uma namorada diferente, não acreditavam - brinca Rafael.
Depois de um processo de discernimento vocacional de três anos, ele foi seminarista por um ano. Hoje repensa sua vocação sacerdotal fora do seminário e namora uma jornalista, mas diz que não foi isso o que mais pesou na decisão.
- Tinha dia no seminário em que eu só pensava em mulher. Caí em tentação algumas vezes, mas procurava evitar, pois a masturbação é um pecado contra a castidade. Mas a minha maior dificuldade foi conviver com os limites dos irmãos - conta Rafael.
Devoto de São Jorge, ele continua a frequentar missas e a fazer orações e garante que continua casto, mesmo namorando. É diretor de bateria de blocos de carnaval, percussionista do grupo de samba Nega Terê e mantém a rotina esportiva que não abandonou no seminário, quando jogou pelo Filhos do Céu Futebol Clube e foi campeão de atletismo.
- Jogava bola, corria e ia ao estádio torcer pelo Vasco. O seminarista é um jovem como outro qualquer - exagera.
No momento, Rafael "aguarda novos sinais de Deus" quanto à sua vocação, como quando viu o pai militar chorar pela primeira vez, em sua missa de envio, e dizer que teria orgulho de ter um filho padre:
- Podemos desistir de Deus, mas Ele não desiste de nós. A decisão cabe mais a Ele do que a mim.

Vocação surgiu num retiro

Gustavo Malta volta hoje de uma missão rural em Montes Claros (MG). Desde que decidiu se tornar um padre jesuíta, em 2006, sua vida tem sido "em tudo amar e servir", ideal de Santo Inácio, fundador da Companhia de Jesus. O chamado veio em um retiro de oito dias que fez numa casa de retiro jesuíta que fica em Itaici, na cidade paulista de Indaiatuba. O convite para o retiro partiu de uma diretora do colégio religioso onde estudou.
- Logo no primeiro dia do retiro, tive um experiência que mudou minha vida: rezei o texto em que Jesus chama os discípulos para irem para a outra margem do lago. Vi Jesus me chamando para segui-Lo e fui junto. Antes eu pensava em me casar - conta.
No início, sua mãe ficou triste com a decisão, mas hoje o apoia. Durante o noviciado, quando fez os votos, o contato com a família se restringia a alguns telefonemas mensais e a cartas. Malta sobrevivia com R$ 30 ou 40 por mês:
- E ainda sobrava. Peregrinei a pé e sem dinheiro de Campinas a Aparecida, com o intuito de me entregar aos desígnios de Deus. É incrível como encontramos nos mais pobres a caridade para ajudar.

Entre o casamento e o sacerdócio

Hebert Queiroz levou apenas 9 meses no Seminário São José, no Rio Comprido, para descobrir que tinha vocação para o matrimônio, o que não o impediu de querer continuar na vida religiosa. Em novembro de 2008, ele deixou de ser seminarista, mas hoje é coordenador dos coroinhas da sua paróquia em Brás de Pina.
- Nesse período, percebi que não queria ser padre, mas servir a Deus de forma completa. Jogávamos futebol todas as segundas e quartas num colégio e, quando via as crianças brincando, ficava pensando que não poderia ter filhos, e o desejo de constituir família falou mais alto - conta Hebert.
Ele diz que não viveu grandes tentações no período de internato e que lidou bem com o rigor da rotina de acordar às 5h30, ir à missa às 6h30, tomar café às 7h20, ter aulas das 8h às 12h20, almoço às 12h30, visitas a asilos ou hospitais na parte da tarde, oração às 18h30, jantar às 19h e recolhimento às 22h40.
- Era um dos mais disciplinados lá dentro. Quando disse que sairia, o reitor não acreditou - relembra.
Dois meses depois de sair do seminário, ele conheceu a atual namorada, com quem garante manter a castidade há um ano:
- Todo católico é chamado a ser casto. A maior vontade do sacerdote é celebrar uma missa. Percebi que a minha era a de aconselhamento espiritual, e eu não preciso ser padre para isso. Agora quero ser diácono.

Vamos demolir o Cristo Redentor

(Dom Anuar Battisti - Arcebispo de Maringá

Maringá, 14 de janeiro de 2010)


      O Presidente Lula, publicou um Decreto no dia 21 de dezembro de 2009, com o titulo: “Programa Nacional dos Direitos Humanos”. Uma das mudanças é a retirada de símbolos religiosos das repartições públicas, como por exemplo, os crucifixos. Isto não fere os direitos humanos, mas a liberdade religiosa de um país que nasceu sob o signo da cruz; lembrando que o Brasil foi chamado em primeiro lugar de “Terra de Santa Cruz”. O símbolo será sempre símbolo; os que acreditam, respeitam; para os que não acreditam, não é necessário se incomodar. Se essa moda pega, corremos o risco de ver o Cristo Redentor, sinal visível do Salvador, marca registrada do Rio, monumento patrimônio da humanidade, sendo demolido.
           Outra mudança com a qual não podemos concordar é a despenalização do aborto. Dada a pressão, o Presidente já concordou em retirar do programa. Esta cláusula foi colocada certamente pelas mulheres que defendem o direito de decidir sobre seus corpos, considerado unicamente como objeto de prazer. Onde está a dignidade da mulher quando se deixa levar pela mentalidade do “carpe diem”; aproveite agora, não existe outro mundo melhor a não ser o do prazer? O liberalismo sexual é a causa principal do uso de drogas, da proliferação do vírus HIV etc. Queremos e defendemos a vida desde a concepção até a morte natural. A vida é sagrada, como é sagrada a Palavra de Deus, a Bíblia.
         Outro objetivo do Programa é a legalização do casamento entre homossexuais. Não condenamos os homossexuais; respeitamos e acolhemos como pessoas humanas que precisam alcançar a perfeição como qualquer outro ser humano. Agora, legalizar a união entre dois seres humanos do mesmo sexo e dar-lhes direitos iguais, significa institucionalizar o pecado, deixando de lado todo e qualquer norma do evangelho. A norma das normas é a Palavra de Deus. Condenamos o pecado, mas amamos o pecador. Se enveredarmos por este lado, não existirá mais referencial nenhum para a educação e a formação da consciência. Os valores da ética e da moral nunca poderão ceder aos caprichos do ser humano.
         Outro ponto que discordamos é dar aos homossexuais o direito de adoção. Por que tantas dificuldades e normas absurdas quando um casal quer adotar um filho? Por que não facilitar o direito dos casais que não podem gerar ou mesmo tendo seus filhos, queiram adotar sem passar pela interminável burocracia? O católico país “Portugal” legaliza o casamento gay e nega a adoção. O argumento para a legalização, é o fato de que se torna cada vez mais difundido a prática homossexual. Certas práticas não podem ser o único critério para legitimar as mudanças. Será que não vamos chegar a legalizar a corrupção, a droga e outras práticas tão comuns no mundo de hoje?
          Este ano, teremos a oportunidade de escolher os líderes políticos para dirigir o país. Fiquemos de olho para saber quem está com quem, o que pensam e fazem hoje os homens que amanhã merecerão a nossa confiança nas urnas.