sexta-feira, 26 de março de 2010

Oração pelos Sacerdotes



Senhor Jesus,

presente no Santíssimo Sacramento do altar, que vos quisestes perpetuar entre nós,
por meio de Vossos Sacerdotes, fazei com que suas palavras sejam somente as vossas,
que seus gestos sejam os vossos, que a sua vida seja o fiel reflexo da Vossa.

Que eles sejam os homens que falam a Deus dos homens e falem aos homens de Deus.

Que não tenham medo de servir, servindo a Igreja como ela quer ser servida.

Que sejam homens testemunhas do nosso tempo, caminhando pelas estradas da história
com vosso mesmo passo, e fazendo o bem a todos.

Que sejam fiéis aos seus compromissos, zelosos de sua vocação e de sua entrega, claros
reflexos da própria identidade e que vivam com alegria o dom recebido.
Tudo isso vos pedimos pela intercessão de Vossa Mãe Santíssima: ela que esteve presente
em Vossa vida esteja sempre presente na vida dos Vossos Sacerdotes.

Amém !

(Lúcia Silveira)

Venha a nós o Vosso Reino!

Queridos amigos e familiares:

Uma grande saudação desde Roma para todos vocês. Espero que Deus esteja abençoando muito os seus lares.

Gostaria de enviar-lhes uns dados, que podem servir diante do problema atual que a Igreja está passando.

Podem ajudar para ver as coisas de forma mais objetiva:
        Um informe do vaticano diz que do ano 2000 até hoje se encontraram 300 casos de sacerdotes pederastas, os quais estão sendo tratados com todo o rigor do Direito Canônico, sem buscar ocultar a verdade dos fatos, mas enfrentando o problema de frente, com um desejo de arrancá-lo definitivamente do meio da Igreja. (vejam, por exemplo a carta pastoral do Papa à Igreja da Irlanda, de dois dias atrás).
       Não esqueçamos, porém, que: na Igreja existem 405 000 sacerdotes. Isso quer dizer que o 0,07% dos sacerdotes católicos estão manchados por este terrível crime.

Comparando esses dados da Igreja com o resto da humanidade:
       No dia 17 de Março de 2010, saiu no Corriere della Sera, um dos mais importantes jornais aqui da Itália, esse dado:
        No ano 2009 se registraram 49 939 sites com filmes, fotos e imagens de abusos sexuais contra menores. 7 mil sites a mais que do ano 2008. E a cada dia se registram 135 novos sites desse tipo na rede, com um média de 100 mil contatos diários: todo um mercado de horror e violência contra pessoas indefesas, que se torna cada vez mais fonte de ganâncias para pessoas sem escrúpulos. A maior parte dos sites pedófilos se encontram na Europa e EUA. O perfil dos pedófilos na Rede são norte-americanos (22,3%), alemães (17,6%), britânicos (6,5%), italianos (5%).

Conclusão:
      Será justo toda essa campanha dos meios de comunicação contra os sacerdotes católicos, incluindo a tentativa de colocar o Papa no meio dessas acusações? (o do Papa já foi desmentido pela Sala de Imprensa da Santa Sé...)

Em Cristo,
Ir. Thácio Soares, L.C.

Campanha contra o Papa e contra a Igreja.


(Dom Henrique)

       A Igreja e, de modo particular, um papa, não podem e não devem ficar preocupados em aparecer de modo belo diante da imprensa mundial e muito menos buscar os seus aplausos, ainda que, atualmente, poucas realidades do nosso mundo globalizado sobretudo midiaticamente tenham um poder ao menos próximo daquele dos meios de comunicação.
         E, no entanto, não deixa de ser porco, realmente nojento – a expressão é esta e não há outra – a campanha desses meios de comunicação contra a Igreja e, de modo específico, contra o Papa Bento XVI. Todos aqueles que são bem informados sabem que esses meios nunca gostaram do Cardeal Ratzinger. Recordam as manchetes quando da sua eleição? Lembram do rosto do Papa dentro dum bloco de gelo, para dizer que a Igreja agora estava congelada? Foi a capa da Veja. Há jornais que são particularmente desonestos e maquiavélicos quando se trata de Bento XVI: penso no The New York Times, um jornal patologicamente anticatólico; penso no italiano La Reppubblica, que é a voz de tudo quanto na Itália possa causar dano à Igreja, penso no Le Monde francês e no El Pais espanhol…
          Por que esta minha conversa? Por causa desse assunto já saturado da pedofilia de alguns sacerdotes. Esses órgãos de comunicação fazem o possível para incriminar o Papa de algum modo! Até agora fracassaram e fracassarão sempre, mas como desgastam! Primeiro, inspirados pela BBC, tentaram acusar o então Cardeal Ratzinger de orquestrar todo um programa de acobertamento dos casos de pedofilia. A TV Record – nunca se esqueça a quem ela pertence e como foi comprada! – fez questão de apresentar esse programa no Brasil, mesmo quando as acusações já tinham sido refutadas e desmascaradas na Europa.
          Agora, com os casos que vieram à baila, tentaram insinuar que o irmão do Papa era pedófilo. Ficou provado que era mentira. Que o irmão do Papa maltratava crianças. Também ficou assentado que não era verdade: ele era rígido e castigava corporalmente as crianças, como qualquer mestre na Alemanha e nas nossas escolas há quarenta, cinqüenta anos atrás. Na Alemanha, certa imprensa marrom tentou afirmar que Ratzinger, quando era Arcebispo de Munique, protegeu um padre pedófilo. Foi provado que a acusação era falsa: o então Arcebispo havia deixado que o referido sacerdote ficasse hospedado na casa paroquial enquanto se submetia a tratamento psicológico, somente como hóspede e sem atividade pastoral alguma.
          Agora, o The New York Times, por pura maldade e desonestidade, acusou o Papa, quando Cardeal, de encobrir a caso de um padre que teria abusado de 200 crianças. Também é mentira…
           Aliás, foi Bento XVI quem, assim que assumiu o trono de Pedro, mandou reabrir o caso do Pe. Marcial Maciel e o suspendeu de modo definitivo. A linha de Bento XVI nesses casos sempre foi clara, simples e reta: tolerância zero.
          O que nos desilude profundamente é perceber de modo claro a desonestidade desses meios midiáticos, que não buscam a verdade, mas usam a informação como puro jogo de poder e de interesses. Mundo cão, o nosso! Mundo marcado profundamente pelo pecado, pela mentira, passando por cima da boa fama dos outros e da retidão de caráter de homens como o Santo Padre! Veremos o que ainda haverão de inventar contra esse homem manso e reto, esse homem de consciência moral elevadíssima, que é Bento XVI. Que Deus o proteja e o livre das mãos de seus tremendos, desonestos e ímpios inimigos.



***



Oremos pelo Papa !

On line Documentos oficiais da Santa Sé e coleção de outros documentos

            Cidade do Vaticano, 25 mar (SIR) - Textos importantíssimos, até agora só disponíveis em forma impressa, nas bibliotecas, passam a estar acessíveis no site oficial da Santa Sé, www.vatican.va, na Seção 'Textos fundamentais'. Trata-se das coleções completas da Ata Sanctae Sedis (ASS) e da Ata Apostolicae Sedis (AAS), ou seja, os textos oficiais da Santa Sé, desde 1865 até 2007, em formato pdf. Além disso, a coleção dos 12 volumes dos Actes et Documents du Saint-Siège relatifs à la Seconde Guerre Mondiale, publicados a partir de 1965, por vontade de Paulo VI, preparados por uma equipe especializada de quatro historiadores jesuítas. Trata-se de uma mina documental de inestimável valor, agora gratuitamente colocada à disposição de todos os estudiosos e das pessoas interessadas. Um grande contributo para a investigação e informação sobre a Santa Sé, sua história e atividade.

segunda-feira, 22 de março de 2010

O Uso santificante da Veste Eclesiástica: a Batina

Eis aqui um texto do Padre Jaime Tovar Patrón:

              Esta breve coleção de textos nos recorda a importância do uniforme sacerdotal, a batina ou hábito talar. Valha outro tanto para o hábito religioso próprio das ordens e congregações. Em um mundo secularizado, da parte dos consagrados não há melhor testemunho cristão que a vestimenta sagrada nos sacerdotes e religiosos.

“SETE EXCELÊNCIAS DA BATINA.”
        “Atente-se como o impacto da batina é grande ante a sociedade, que muitos regimes anticristãos a têm proibido expressamente. Isto nos deve dizer algo. Como é possível que agora, homens que se dizem de Igreja desprezem seu significado e se neguem a usá-la?”
              Hoje em dia são poucas as ocasiões em que podemos admirar um sacerdote vestindo sua batina. O uso da batina, uma tradição que remonta a tempos antiqüíssimos, tem sido esquecido e às vezes até desprezado na Igreja pós-conciliar. Porém isto não quer dizer que a batina perdeu sua utilidade, se não que a indisciplina e o relaxamento dos costumes entre o clero em geral é uma triste realidade.
          A batina foi instituída pela Igreja pelo fim do século V com o propósito de dar aos seus sacerdotes um modo de vestir sério, simples e austero. Recolhendo, guardando esta tradição, o Código de Direito Canônico impõe o hábito eclesiástico a todos os sacerdotes.
            Contra o ensinamento perene da Igreja está a opinião de círculos inimigos da Tradição que tratam de nos fazer acreditar que o hábito não faz o monge, que o sacerdócio se leva dentro, que o vestir é o de menos e que o sacerdote é o mesmo de batina ou à paisana.
           Sem dúvida a experiência mostra o contrário, porque quando há mais de 1500 anos a Igreja decidiu legislar sobre este assunto foi porque era e continua sendo importante, já que ela não se preocupa com ninharias.
            Em seguida expomos sete excelências da batina condensadas de um escrito do ilustre Padre Jaime Tovar Patrón

1ª RECORDAÇÃO CONSTANTE DO SACERDOTE
               Certamente que, uma vez recebida a ordem sacerdotal, não se esquece facilmente. Porém um lembrete nunca faz mal: algo visível, um símbolo constante, um despertador sem ruído, um sinal ou bandeira. O que vai à paisana é um entre muitos, o que vai de batina, não. É um sacerdote e ele é o primeiro persuadido. Não pode permanecer neutro, o traje o denuncia. Ou se faz um mártir ou um traidor, se chega a tal ocasião. O que não pode é ficar no anonimato, como um qualquer. E logo quando tanto se fala de compromisso! Não há compromisso quando exteriormente nada diz do que se é. Quando se despreza o uniforme, se despreza a categoria ou classe que este representa.

2ª PRESENÇA DO SOBRENATURAL NO MUNDO
               Não resta dúvida de que os símbolos nos rodeiam por todas as partes: sinais, bandeiras, insígnias, uniformes… Um dos que mais influencia é o uniforme. Um policial, um guardião, é necessário que atue, detenha, dê multas, etc. Sua simples presença influi nos demais: conforta, dá segurança, irrita ou deixa nervoso, segundo sejam as intenções e conduta dos cidadãos.
                 Uma batina sempre suscita algo nos que nos rodeiam. Desperta o sentido do sobrenatural. Não faz falta pregar, nem sequer abrir os lábios. Ao que está de bem com Deus dá ânimo, ao que tem a consciência pesada avisa, ao que vive longe de Deus produz arrependimento.
              As relações da alma com Deus não são exclusivas do templo. Muita, muitíssima gente não pisa na Igreja. Para estas pessoas, que melhor maneira de lhes levar a mensagem de Cristo do que deixar-lhes ver um sacerdote consagrado vestindo sua batina? Os fiéis tem lamentado a dessacralização e seus devastadores efeitos. Os modernistas clamam contra o suposto triunfalismo, tiram os hábitos, rechaçam a coroa pontifícia, as tradições de sempre e depois se queixam de seminários vazios; de falta de vocações. Apagam o fogo e se queixam de frio. Não há dúvidas: o “desbatinamento” ou “desembatinação” leva à dessacralização.

3ª É DE GRANDE UTILIDADE PARA OS FIÉIS
         O sacerdote o é não só quando está no templo administrando os sacramentos, mas nas vinte e quatro horas do dia. O sacerdócio não é uma profissão, com um horário marcado; é uma vida, uma entrega total e sem reservas a Deus. O povo de Deus tem direito a que o auxilie o sacerdote. Isto se facilita se podem reconhecer o sacerdote entre as demais pessoas, se este leva um sinal externo. Aquele que deseja trabalhar como sacerdote de Cristo deve poder ser identificado como tal para o benefício dos fiéis e melhor desempenho de sua missão.

4ª SERVE PARA PRESERVAR DE MUITOS PERIGOS
           A quantas coisas se atreveriam os clérigos e religiosos se não fosse pelo hábito! Esta advertência, que era somente teórica quando a escrevia o exemplar religioso Pe. Eduardo F. Regatillo, S.I., é hoje uma terrível realidade.
           Primeiro, foram coisas de pouca monta: entrar em bares, lugares de recreio, diversão, conviver com os seculares, porém pouco a pouco se tem ido cada vez a mais.
         Os modernistas querem nos fazer crer que a batina é um obstáculo para que a mensagem de Cristo entre no mundo. Porém, suprimindo-a, desapareceram as credenciais e a mesma mensagem. De tal modo, que já muitos pensam que o primeiro que se deve salvar é o mesmo sacerdote que se despojou da batina supostamente para salvar os outros.
          Deve-se reconhecer que a batina fortalece a vocação e diminui as ocasiões de pecar para aquele que a veste e para os que o rodeiam. Dos milhares que abandonaram o sacerdócio depois do Concílio Vaticano II, praticamente nenhum abandonou a batina no dia anterior ao de ir embora: tinham-no feito muito antes.

5ª AJUDA DESINTERESSADA AOS DEMAIS
         O povo cristão vê no sacerdote o homem de Deus, que não busca seu bem particular se não o de seus paroquianos. O povo escancara as portas do coração para escutar o padre que é o mesmo para o pobre e para o poderoso. As portas das repartições, dos departamentos, dos escritórios, por mais altas que sejam, se abrem diante das batinas e dos hábitos religiosos. Quem nega a uma monja o pão que pede para seus pobres ou idosos? Tudo isto está tradicionalmente ligado a alguns hábitos. Este prestígio da batina se tem acumulado à base de tempo, de sacrifícios, de abnegação. E agora, se desprendem dela como se se tratasse de um estorvo?

6ª IMPÕE A MODERAÇÃO NO VESTIR
         A Igreja preservou sempre seus sacerdotes do vício de aparentar mais do que se é e da ostentação dando-lhes um hábito singelo em que não cabem os luxos. A batina é de uma peça (desde o pescoço até os pés), de uma cor (preta) e de uma forma (saco). Os arminhos e ornamentos ricos se deixam para o templo, pois essas distinções não adornam a pessoa se não o ministro de Deus para que dê realce às cerimônias sagradas da Igreja.
           Porém, vestindo-se à paisana, a vaidade persegue o sacerdote como a qualquer mortal: as marcas, qualidades do pano, dos tecidos, cores, etc. Já não está todo coberto e justificado pelo humilde hábito religioso. Ao se colocar no nível do mundo, este o sacudirá, à mercê de seus gostos e caprichos. Haverá de ir com a moda e sua voz já não se deixará ouvir como a do que clamava no deserto coberto pela veste do profeta vestido com pêlos de camelo.

7ª EXEMPLO DE OBEDIÊNCIA AO ESPÍRITO E LEGISLAÇÃO
        Como alguém que tem parte no Santo Sacerdócio de Cristo, o sacerdote deve ser exemplo da humildade, da obediência e da abnegação do Salvador. A batina o ajuda a praticar a pobreza, a humildade no vestiário, a obediência à disciplina da Igreja e o desprezo das coisas do mundo. Vestindo a batina, dificilmente se esquecerá o sacerdote de seu importante papel e sua missão sagrada ou confundirá seu traje e sua vida com a do mundo.
           Estas sete excelências da batina poderão ser aumentadas com outras que venham à tua mente, leitor. Porém, sejam quais forem, a batina sempre será o símbolo inconfundível do sacerdócio, porque assim a Igreja, em sua imensa sabedoria, o dispôs e têm dado maravilhosos frutos através dos séculos.

Carta sobre a oração

AUTOR: Bruno Forte
(arcebispo de “Chieti-Vasto”)

TRADUZIDO POR:
Nilton Francisco
(seminarista da Arquidiocese de Olinda e Recife)

          Perguntas, porque rezar? Respondo-te, para viver. Porque, com efeito, para viver de verdade tens que rezar. Por quê? Porque para viver tens que amar. Uma vida sem amor não é vida. É solidão vazia, é cárcere e é tristeza. Só quem ama vive de verdade. E somente ama quem se sente amado, alcançado e transformado pelo amor. Assim, como a planta não pode florescer e dar seus frutos, se não recebe os raios do sol, também o coração humano não pode abrir-se à vida verdadeira e plena se não é alcançado pelo amor. Agora sim, o amor nasce e vive do encontro com o amor de Deus, o maior e mais verdadeiro de todos os amores possíveis; mais ainda: o amor que está mais além de qualquer definição que possamos dar e de todas nossas possibilidades. Ao rezar nos deixamos amar por Deus e nascemos ao amor. Portanto, quem ama vive no tempo e para a eternidade.
         E quem não reza? Quem não reza corre o risco de morrer interiormente, porque cedo ou tarde lhe faltará o ar para respirar, o calor para viver, a luz para ver, o alimento para crescer e a alegria que dá sentido à existência. Me dizes: mas, eu não sei rezar? Me perguntas: como se reza? Te respondo: começa a dar um pouco do teu tempo a Deus. No começo não importará que esse tempo seja muito, mas que seja dado com fidelidade, cotidianamente, quando o sintas e quando não. Busca um lugar tranquilo, se possível tenha algum sinal que remeta à presença de Deus. Medita em silêncio, invoca ao Espírito Santo para que seja ele quem diga em ti: “Abbá, Pai”. Eleva a Deus teu coração, ainda que esteja confuso. Não tenhas medo de dizer-lhe tudo: tuas dificuldades e tua dor, teu pecado e tua incredulidade, e também tua rebelião e tua oposição, se assim te sentes.
           Abandonando-se todo nas mãos de Deus, recorde que Ele é Pai-Mãe no amor, que todo te recebe, toda tua pessoa, todo te ilumina, todo te salva. Escuta seu silêncio. Não queira receber respostas rápidas. Persevera. Como o profeta Elias, caminha no deserto para o monte de Deus. E quando te aproximares dele, não o busque no vento, no trovão ou no fogo, em sinais de força ou de grandeza, mas na voz sutil do silêncio. Não pretendas possuí-lo, deixa, ao contrário, que passe por tua vida e por teu coração, que toque tua alma e se deixe contemplar por ti, embora sejas passivo desta ação.
           Escuta a voz do seu silêncio. Escuta sua palavra de vida. Abre a Bíblia e medita com amor. Deixa que a palavra de Jesus fale ao coração de teu coração. Leia os salmos, onde encontrará expressado tudo o que querias dizer-lhe. Escuta os apóstolos e os profetas. Apaixone-se com a história dos patriarcas, do povo escolhido e da igreja nascente. Quando escutares a palavra de Deus, siga caminhando pelos atalhos do silêncio, desejando que o Espírito te una a Cristo, palavra eterna do Pai. No começo, poderá te parecer que o tempo é exagerado. Persevera com humildade, dando a Deus o tempo que puderes dar, mas, nunca menos do que estabeleceste poder dar-lhe cada dia. Verás que, pouco a pouco, tua fidelidade se verá premiada. E perceberás que, pouco a pouco, crescerá em ti o gosto pela oração: o que no início te parecia inalcançável, se tornará cada vez mais fácil e belo, perfeito. Compreenderás que o que conta não é obter respostas, mas, se por à disposição de Deus. E verás que tudo o que pressentes na oração pouco a pouco se irá transfigurando.
             Quando fores rezar com o coração agitado, se perseverares, perceberás que mesmo rezando longamente não obterás respostas as tuas interrogações, mas elas vão derretendo-se como a neve ante o sol. E em teu coração irromperá uma grande paz: a paz de estar nas mãos de Deus e de deixar-te conduzir com docilidade por ele até o lugar que te preparou. Então, teu coração renovado poderá cantar um cântico novo, e o “Magnificat” de Maria estará espontaneamente em teus lábios e será cantado pela silenciosa eloquência de tuas obras.

           Sem dúvida, não faltarão momentos de dificuldades. Às vezes não poderás calar o ruído que te rodeia e o que está em ti; às vezes sentirás o cansaço e até o desagrado de rezar; às vezes tua sensibilidade preferirá qualquer outra coisa a estar em oração frente a Deus, como se esse fosse só “tempo perdido”. Sentirás, finalmente, as tentações do maligno, que tratará de separar-te do Senhor, de distanciar-te da oração. Não temas. As mesmas provas que tu vives as experimentaram os santos, muito mais opressoras. Persevera, resiste e recorda que a única coisa que realmente podemos dar a Deus é a prova de nossa fidelidade. Com a perseverança salvarás teu coração e tua vida.
         Chegará depois a hora da “noite escura”, quando tudo te parecerá árido ou inclusive absurdo nas coisas de Deus. Não temas. Este é o momento em que Deus luta junto a ti: remove todo o pecado na confissão humilde e sincera de tuas culpas e busca o perdão sacramental. Dê a Deus mais do seu tempo. Deixe que a noite dos sentidos e do espírito se converta para ti na hora da participação na paixão do Senhor. Neste ponto Jesus mesmo carregará a cruz contigo e te conduzirá consigo até a alegria da páscoa. Não te assombrará, então, descobrir quão amável é essa noite, já que a verás transformada para ti em noite de amor, inundada pela alegria da presciência do amado.
          Não tenhas medo, portanto, das provas e das dificuldades da oração. Recorda somente que Deus é fiel e não permitirá nunca uma prova sem saída, não deixará nunca que sejas tentado sem dar-te força para suportar e vencer. Deixa-te amar por Deus. Como uma gota d’água que se evapora sob os raios do sol e sobe para voltar a terra como chuva fecunda ou orvalho consolador, deixa assim que teu ser seja esculpido por Deus, plasmado pelo amor das três pessoas divinas, absorvido e restituído à história como presente fecundo. Deixa que a oração faça crescer em ti a liberdade de todo medo, o valor e a audácia do amor, a fidelidade às pessoas que Deus te confiou e às situações nas quais te puseste, sem buscar evasões e consolos medíocres. Aprende, a rezar, a viver a paciência de esperar os tempos de Deus que não são os nossos, e a seguir seus caminhos, que tão pouco são os nossos.
           Um dom especial, fruto da fidelidade na oração, será o amor pelos demais e o sentido de Igreja. Quanto mais rezes, maior misericórdia sentirás pelos demais, mais quererás ajudar a quem sofre, mais terás fome e sede de justiça para com todos, especialmente com os mais pobres e débeis, mais levarás em consideração os pecados dos outros para completar em ti o que falta à paixão de cristo. Ao rezar, sentirás como é belo estar na barca de Pedro, solidário, sustentado pela oração de todos, disposto aos demais com gratuidade, sem pedir nada em troca. Ao rezar sentirás crescer em ti a paixão pela unidade do corpo de Cristo de toda a família humana.
             Ao rezar se aprende a rezar, e se gosta dos frutos do espírito que dão verdade e beleza à vida. Ao rezar, se transforma no amor; e a vida cobra sentido à perfeição que Deus quis. Ao rezar se adverte a urgência de levar o evangelho a todos, até os últimos confins da terra. Ao rezar se descobrem os infinitos dons do Amado e se aprende a dar-lhe graças por tudo. Ao rezar se vive. Ao rezar se ama, se louva.
             Se tivesse, então, que te desejar o presente mais precioso, se quisesse pedi-lo a Deus para ti, não hesitaria em solicitar o dom da oração. Se o peço. E não hesito em pedir a Deus para mim. E parati. Que a paz de Nosso senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam contigo. E tu neles, porque ao rezar entrarás no coração de Deus, escondido com Cristo nele, envolvido em seu amor eterno, fiel e sempre novo. E já sabes que quem reza com Jesus e nele, quem reza a Jesus ou ao Pai ou invoca seu Espírito, não está rezando a um Deus genérico e distante. Desde o Pai, por meio de Jesus, graças ao Espírito, cada um receberá o dom perfeito, o mais oportuno, o que foi preparado desde sempre. É o presente que nos espera.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Sâo José, o Varão a quem Deus o chamou de Pai


Há certos homens, ao longo da História, cuja grandeza ultrapassa qualquer lenda e esgota mesmo a mais rica capacidade de imaginação.
                   Tais homens parecem ser objeto de uma especial predileção de Deus, o qual Se compraz em adornar cuidadosamente suas almas com o brilho das virtudes e de raríssimos dons. Predestinados desde o nascimento, sua vida se desenvolve em meio a aventuras extraordinárias e assombrosas que ora lhes favorecem o desempenho da missão, ora levantam-se como obstáculos intransponíveis, dando ocasião a lances de confiança e audácia que tornam suas pessoas ainda mais dignas de admiração.

                   No Antigo Testamento encontramos narrativas dessas a cada passo.
Extasiamo-nos diante do poder de um Moisés, que com o simples gesto de levantar seu cajado dividiu as águas do mar em duas gigantescas muralhas líquidas; ou perante a serena autoridade de Josué, que não duvidou em dar ordens ao próprio sol para deter o seu curso. Mais adiante, impressionam-nos a força de Sansão, ao carregar nos ombros as portas de Gaza, e o zelo ardoroso do profeta Elias, fazendo cessar a chuva durante três anos. A todos eles a Providência Divina concedeu o domínio sobre a natureza, essa fé que move montanhas e as faz saltar como cabritos...Tais prodígios sublinhavam o poder justiceiro do Criador e visavam, sobretudo, educar uma humanidade manchada pelo pecado original, sobre a qual ainda não se haviam derramado os benefícios da Redenção.

Em todas as obrigações que, como pai, lhe
competiam, São José praticou de forma
excelsa a virtude da fortaleza.

Uma nova economia da graça

            Chegada a plenitude dos tempos, as manifestações da onipotência divina, longe de diminuir, atingiram um auge de profundidade e esplendor.
             No Novo Testamento, porém, a grandeza se esconde muitas vezes sob os véus da comum existência humana, e isso é permitido por Deus para aumentar nossos méritos e acrisolar ainda mais nossa fé.
              O exemplo paradigmático dessa nova economia da graça, nós o vemos realizar-se num varão cuja vida transcorreu na humildade e no silêncio, mas que mereceu ouvir dos lábios do Homem-Deus o doce nome de pai! Sem dúvida, Moisés, ao abrir o mar em duas partes, ou Josué, ao parar o sol, marcaram de forma indelével as futuras gerações. Mas, o que é ter sujeitado os elementos, criaturas inanimadas, diante da honra suprema de ser obedecido por Aquele de quem canta o salmista: "Mais forte que o bramido das ondas caudalosas, mais poderoso que o rebentar das vagas, é o Senhor lá nas alturas" (Sl 92, 4), e que mais tarde foi visto por Malaquias quando disse: "Para vós, que temeis o meu nome, nascerá o Sol da Justiça trazendo salvação em suas asas" (Ml 3, 20)? O que significa ter carregado às costas as portas de Gaza, em confronto com a glória de estreitar nos braços Aquele que afirmou de Si mesmo: "Eu sou a porta das ovelhas" (Jo 10, 7)? Caberá alguma comparação entre o profeta que fez parar a chuva e o patriarca cujas preces aceleraram a "chuva do Justo vindo das alturas" (cf. Is 45, 8)?

Uma das mais altas vocações da História

              São José, o homem justo por excelência, o glorioso esposo de Maria e pai legal do Filho de Deus, é certamente um dos santos mais venerados pela piedade popular. No entanto, quase só ouvimos falar dele como "o artesão de Nazaré" ou "o padroeiro dos operários". Esses títulos são muito legítimos, mas estão longe de nos dar idéia do píncaro de santidade ao qual Deus houve por bem elevá- lo. Ele nunca será devidamente conhecido e venerado por nós se - repetindo em nossa época a triste cegueira dos habitantes de Nazaré - o considerarmos apenas como o pobre carpinteiro da Galiléia. Para não nos tornarmos culpados de um erro que poderia ser qualificado de "calúnia hagiográfica", procuremos analisar a verdade a respeito deste varão destinado a uma das mais altas vocações da História.

                                              Deus escolhe sempre o mais belo

               Deus Todo-Poderoso, para quem "nada é impossível" (Lc 1, 37) e que tudo governa com sabedoria infinita, possui algo que poderíamos chamar de sua "única limitação": ao criar, Ele nada pode escolher de menos belo e perfeito, ou que não seja para sua glória. Desde toda a eternidade, ao determinar a Encarnação do Verbo, quis o Pai que - apesar das aparências de pobreza e humildade através das quais Se mostraria, e que contribuiriam para sua maior exaltação - a vinda de seu Filho ao mundo se revestisse da suprema pulcritude conveniente a Deus. Assim, dispôs que Ele fosse concebido por uma Virgem, concebida por sua vez sem pecado original, unindo em Si as alegrias da maternidade à flor da virgindade. Porém, para completar o quadro, tornava-se necessária a presença de alguém que projetasse na terra a própria "sombra do Pai". Para tal missão Deus destinou José, ao qual poderíamos aplicar as palavras da Escritura, referindo- se a seu antepassado Davi: "O Senhor escolheu para Si um homem segundo o seu coração" (1 Sm 13, 14).

Varão justo por Excelência

               Levando em conta o axioma latino: "nemo summus fit repente" e o acertado dito de Napoleão: "a educação de uma criança começa cem anos antes de ela nascer", é provável que, em atenção à sua missão e ao seu papel de educador junto ao Menino-Deus, José tenha sido santificado já no seio materno, como o foi João Batista no ventre de Santa Isabel. Essa tese é defendida por diversos autores e pode sintetizar- se nas palavras de São Bernardino de Sena: "Sempre que a graça divina escolhe alguém para algum favor especial ou para algum estado elevado, concede-lhe todos os dons necessários à sua missão; dons que a ornam abundantemente".
         O louvor de José, tal como o Evangelho no-lo traça, encerra-se numa única e breve frase: era justo. Tal elogio, à primeira vista de um laconismo desconcertante, nada tem de medíocre. Na linguagem bíblica, o adjetivo "justo" designa todas as virtudes reunidas. No Antigo Testamento, justo é aquele a quem a Igreja dá o nome de santo: justiça e santidade exprimem a mesma realidade.
           O próprio silêncio das Escrituras a seu respeito nos revela um aspecto primordial de sua perfeição: a contemplação. São José é o modelo da alma contemplativa, mais desejosa de pensar que de agir, embora seu ofício de carpinteiro o levasse a consagrar tanto tempo ao trabalho. Nele vemos realizar-se o ensinamento de São Tomás: a contemplação é superior à ação, porém, mais perfeita ainda é a junção de uma e de outra numa mesma pessoa.
             Ao serrar a madeira, fabricar um móvel ou um arado, José mantinha sempre seu espírito voltado para o sobrenatural, elevando-se para o aspecto mais sublime das coisas e considerando tudo sob o prisma de Deus. Suas atitudes refletiam a seriedade e a altíssima intenção com a qual sempre agia, e isso contribuía para o maior primor dos trabalhos por ele executados.
            Sua humilde condição de trabalhador manual em nada lhe diminuía a nobreza. Reunia em si, de forma admirável, as duas classes sociais: como legítimo herdeiro do trono de Davi, conservava em seu porte e semblante a distinção e a elegância próprias a um príncipe, aliando-as, porém, a uma alegre simplicidade de caráter. Para ele, mais importante do que a nobreza de sangue é aquela que se alcança pelo brilho da virtude; e esta, ele a possuía largamente.

Deus concedeu a São José todas as graças
já desde a infância: piedade, virgindade,
prudência, perfeita fidelidade ...

A Providência, entretanto, o destinava a alcançar a mais alta honra que se possa dar a uma criatura concebida no pecado original e o colocava em desproporção com todo o restante dos homens. Diz São Gregório Nazianzeno: "O Senhor conjugou em José, como num sol, tudo quanto os outros santos têm, em conjunto, de luz e de esplendor".
Todas as glórias acumulam-se neste varão incomparável, cuja existência terrena transcorre dentro de uma sublimidade ignorada por seus conhecidos e compatriotas, num silêncio e apagamento quase completos.

Admirável consonância entre duas almas virgens

No Antigo Testamento, a virgindade ainda não adquirira o prestígio do qual passou a gozar na Era Cristã. Muito pelo contrário, quem não constituísse família, ou se visse impossibilitado de gerar filhos, era considerado maldito por Deus. "A espera do Messias dominava a tal ponto os espíritos, que o desprezo do casamento equivalia a uma recusa desonrosa de contribuir para a vinda d'Aquele que havia de restaurar o reino de Israel" (1). De acordo com a opinião generalizada, José, movido por uma especial moção do Espírito Santo, decidira permanecer virgem por toda a vida. Porém, não querendo singularizar- se, contrariando os costumes de seu tempo, resignara-se a contrair matrimônio, convencido de que o Senhor, tendo lhe inspirado esse bom propósito, o ajudaria a levá-lo a cabo.
              Cedendo, pois, às exigências sociais, resolveu pedir a mão de Maria, a qual ele provavelmente já conhecia, pois ambos pertenciam à mesma tribo e habitavam na mesma aldeia. Tudo indica que naquela época os pais de Maria haviam falecido e Ela vivia sob a tutela de algum parente. Sem levar em conta a opinião da jovem, seu tutor apenas Lhe comunicou ter aceito o pedido de um pretendente a ser seu marido.

É sabido que Maria, desde a infância, consagrara ao Senhor sua virgindade.

          Entretanto, acostumada a obedecer, inclinou-Se ante a decisão de seus parentes, acreditando ser essa a manifesta vontade da Providência.
         Se conservava algum receio, deve este ter-se dissipado quando soube que o escolhido era José, o nobre descendente da estirpe de Davi, em cuja alma Ela já vira, por seu aguçado dom de discernimento, as altíssimas qualidades postas por Deus.
          Antes dos esponsais, Maria precisava dar a conhecer ao seu noivo o voto de virgindade, sob pena de o matrimônio ser nulo. Fê-lo de forma séria e decidida, falando com toda a simplicidade de seu inocente coração. José pensou estar ouvindo uma voz do Céu e reconheceu, emocionado, a mão da Providência atendendo às suas preces. É impossível ter idéia do grau de concórdia dessas duas almas, ao se revelarem mutuamente seus mais íntimos mistérios. Desde esse instante, José passou a ser o modelo perfeito do devoto de Nossa Senhora.
         Podemos bem imaginar que, já nesse primeiro encontro, a graça o tocou de maneira especial, levando-o a consagrar-se como escravo de amor Àquela que, mais do que esposa, já considerava como Senhora e Rainha.

Proporcionado a Jesus e Maria

O contrato matrimonial deveria ser acertado entre as duas famílias.

          Um ponto ao qual se costumava dar escrupulosa importância, sobretudo entre pessoas de nobre origem, era a igualdade de condições. Tanto Maria quanto José eram da tribo de Judá e descendentes de Davi. Mais, porém, do que qualquer requisito social, sobre aquele matrimônio pairava, desde toda a eternidade, um desígnio divino. Para a realização da vontade do Altíssimo, deveria o esposo ser proporcionado à esposa, o pai ao filho, a fim de sustentar com toda dignidade a honra de ser pai adotivo de Deus. E houve só um homem criado e preparado para essa missão, inteiramente à altura de exercê-la: São José. Ele estava na proporção de Jesus Cristo e de Maria Santíssima.

Matrimônio de Nossa Senhora e São José (Figura)

Para fazermos uma idéia exata da magnitude de sua personalidade, devemos imaginá-lo como sendo uma versão masculina de Nossa Senhora, o homem dotado de sabedoria, força e pureza bastantes para governar as duas criaturas mais excelsas saídas das mãos de Deus: a Humanidade santíssima de Nosso Senhor e a Rainha dos anjos e dos homens.

Em Israel os esponsais equivaliam juridicamente ao casamento de hoje.

A partir dessa cerimônia - na qual o noivo colocava um anel de ouro no dedo de sua prometida, dizendo: "Este é o anel pelo qual tu te unes a mim diante de Deus, segundo o rito de Moisés" - ambos passavam a pertencer de forma irrevogável um ao outro e a partir de então se consideravam esposos. Contudo, a coabitação era em geral adiada pelo prazo de um ano, para dar tempo à esposa de completar o enxoval e ao marido de preparar a casa.

Maria e José, fiéis cumpridores da Lei, ativeram-se a todas essas formalidades.

            Mas um segredo Divino envolvia seu caso concreto, do qual certamente nenhuma das testemunhas do acontecimento - parentes e amigos - chegou a suspeitar. Ali estavam "duas almas virgens que se prometiam mútua fidelidade, uma fidelidade que consistiria em guardarem ambos a virgindade" (2).

Quanto mais uma pessoa sofre, mais é digna de amor

             Nesse intervalo entre os esponsais e as bodas, Maria recebeu a embaixada do Arcanjo Gabriel. O Evangelho de Mateus deixa-o bem claro ao afirmar: "Antes de coabitarem, aconteceu que Ela concebeu por virtude do Espírito Santo" (Mt 1, 18). Supérfluo seria nos estendermos aqui sobre os detalhes da Anunciação e da Encarnação do Verbo, já tão conhecidos e tantas vezes comentados.
            Um ponto apenas é preciso deixar bem claro: poucos dias depois desse acontecimento, Maria dirigiu-se apressadamente para o pequeno povoado das montanhas da Judéia onde habitavam seus primos, Zacarias e Isabel.
            Boa parte dos comentaristas defende a idéia de que José acompanhou sua esposa na viagem de ida e, transcorridos três meses, foi buscá-La. Tal opinião parece bem fundada, pois a juventude de Maria e as dificuldades de um penoso percurso eram razões de sobra para mover a solicitude de um esposo fiel e zeloso, como era o seu.
            Depois do regresso a Nazaré, não tardou ele a perceber os primeiros sinais da gravidez de sua desposada. No começo, relutou em acreditar, julgando-se vítima de uma alucinação.

            Passados, porém, alguns dias, não pôde mais duvidar da realidade patente ante seus olhos: Maria trazia uma criança em seu seio.

               Nesse momento eclodiu, como violento turbilhão, o drama na vida de São José. Talvez a provação mais terrível que uma mera criatura humana - fazendo abstração da Santíssima Virgem ao longo da Paixão - jamais tenha enfrentado. Essa era, entretanto, a divina vontade do Menino que Se formava nas puríssimas entranhas de Maria. Desejava Ele que seu nascimento viesse com o selo indelével da dor santamente aceita, para dar-nos a lição de que quanto mais uma pessoa sofre, tanto mais é digna de amor. O pai adotivo que escolhera como imagem de seu Pai Celestial, Ele o submetia a uma dura prova, dando-lhe oportunidade de levar seu heroísmo a alturas inimagináveis. Ao mesmo tempo, aparecia com maior esplendor a virgindade de Nossa Senhora.

O herói da fé

           A perplexidade de José não consistia, como pensaram alguns Padres antigos, em duvidar da fidelidade de sua esposa. Tal hipótese contunde a nossa piedade, pois desmerece a perfeição eminente alcançada pelo santo Patriarca e, ademais, Deus não permitiria que a honra virginal de Maria pudesse ser ferida por uma suspeita no espírito de José. O texto do Auctor imperfecti exprime com belíssimas palavras a postura dele diante do fato: "Ó inestimável louvor de Maria! São José acreditava mais na castidade de sua esposa do que naquilo que seus olhos viam, mais na graça do que na natureza. Via claramente que sua esposa era mãe e não podia acreditar que fosse adúltera; acreditou que era mais possível uma mulher conceber sem varão do que Maria poder pecar" (3).
           Sua angústia tornava-se tanto mais lancinante quanto mais via resplandecer a virtude no rosto angelical de Maria. Por um lado, a evidência saltava- lhe aos olhos, por outro, considerava fora de cogitação a possibilidade de aquela criatura tão inocente ter cometido um pecado. Ora, se a concepção de Maria era obra sobrenatural o que fazia ele ali? Não estaria ofendendo a Deus, intrometendo- se num mistério para ele incompreensível, o qual se lhe afigurava como absolutamente divino? Não seria ele um intruso, atrapalhando os planos do Altíssimo? José não julgou. Suspendeu o juízo da carne ante os inescrutáveis desígnios de Deus. Subjugou a razão humana à fé inabalável e procurou uma saída para o caso, pois, como resume São Tomás. Desde o princípio descartou a hipótese de denunciá-La, como o exigia o Deuteronômio, segundo o qual a mulher deveria sofrer a pena de lapidação. Estava convicto da inocência de Maria e estremecia diante dessa idéia.

                                                  Jamais houve em São José dúvida
                                                          quanto à santidade de Maria

              Existia também a opção do repúdio: a Lei de Moisés permitia ao homem despedir sua mulher, dando-lhe o libelo de divórcio. Mas essa possibilidade repugnava-lhe igualmente, porque atentaria contra a reputação da Santa Virgem. Numa pequena aldeia, onde todos os habitantes se conheciam, tal atitude daria margem a suspeitas sobre o comportamento de Maria: por qual motivo o marido A teria afastado de repente? No futuro, a Virgem traria sempre a marca de uma mulher rejeitada.
            A solução encontrada por José não se achava nos livros da Lei, mas partiu de seu coração: "Resolveu deixá- La secretamente" (Mt 1, 19). Agindo assim, salvaguardava a fama de sua esposa, pois Ela seria vista como uma pobre jovem abandonada pela crueldade de um homem sem palavra. A culpa recairia toda sobre ele.
           Nesse passo de sua vida, José revelou o brilho alcandorado de sua nobre alma, sua sabedoria e sua humildade levadas ao grau heróico.
           Com efeito, a ele poderíamos aplicar estas belas palavras de um autor francês: "O herói é um grande coração que se ignora, uma grande alma que se esquece de si mesma. (...) Todas as fraquezas de nossa pobre natureza humana estão concentradas em torno desse egoísmo que faz de cada um de nós o centro do Universo. O herói é aquele que rompeu esse círculo estreito onde todas as naturezas, até mesmo as mais dotadas, vegetam ou se estiolam. Esse "eu" que em alguns é rei, nele, durante toda sua vida, permanece escravo" (4).

Esqueceu-se completamente de si, preferindo desacreditar-se diante da opinião pública, a ver o prestígio de Maria manchado.

         Além do mais, renunciava também à sua própria felicidade: tinha de abandonar Nossa Senhora, o maior tesouro da terra. Isso era um sofrimento imenso, pois para ele o convívio com Maria significava um verdadeiro Paraíso.

             D'Ela aprendera, nos seus gestos mais simples, lições excelsas de sabedoria e de bondade; ao contemplá-La, sentia-se mais próximo de Deus. E via-se agora obrigado a sacrificar aquilo que mais apreciava em sua vida! Passaria seus dias longe, venerando um mistério que não entendera.

            Durante alguns dias, José maturou sua resolução, decidido a pô-la em prática. Numa noite enevoada e sem lua encontrou ocasião propícia, preparou seus pobres pertences e deitou-se para refazer as forças antes da partida. Pouco a pouco, por uma ação angélica, seu coração aflito serenou e ele adormeceu profundamente.

             Como outrora com Abraão, o Senhor esperara até o último instante para deter o golpe fatal. No meio da noite apareceu-lhe um anjo, anunciando: "José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que n'Ela foi concebido vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque Ele salvará o seu povo de seus pecados" (Mt 1, 20-21).

"Os que semeiam entre lágrimas, recolherão com alegria" (Sl 125, 5)

               É impossível medir o gozo de José ao despertar do sonho. Logo ao alvorecer, correu a encontrar-se com sua esposa. Mas como se sentia agora mais tomado pela veneração e ternura que culminavam no ardoroso desejo de servi-La! Certamente nada disse a Maria, mas a alegre expressão do seu semblante era mais eloqüente do que as palavras.
             De joelhos, adorou a Deus no seio virginal de sua Mãe, primeiro tabernáculo no qual Se dignara habitar sobre a terra. Um Deus que também era seu filho, pois os dizeres do anjo manifestavam com clareza a autoridade a ele outorgada sobre o fruto de sua esposa: "um filho a quem porás o nome de Jesus".

Paternidade nova, única e especial

           A paternidade de São José em relação a Cristo tem sido um tema muito discutido pelos autores. Os títulos multiplicam-se: pai legal, pai putativo, pai nutrício, pai adotivo, pai virginal...

Em São José de tal maneira brilha a chama da
caridade, um tão intenso amor a Deus,
uma vida interior tão admirável, que ele se
tornou objeto das complacências do
próprio Deus Encarnado

Cada um deles define aspectos parciais e incompletos, sem chegar a exprimir por inteiro a paternidade deste varão excepcional. O Pe. Bonifácio Llamera OP parece ter chegado a uma conclusão satisfatória: "A paternidade de São José em relação a Jesus é certamente distinta de qualquer outra paternidade natural, seja física ou adotiva. É verdadeira paternidade, mas muito singular. É uma paternidade nova, única e especial, pois não procede da geração segundo a natureza, mas está fundada num vínculo moral inteiramente real.
E tão real é esta paternidade singular como é verdadeiro o vínculo matrimonial entre Maria e José. (...) "Esta paternidade de São José, tão admirável como difícil de expressar numa palavra, é confirmada e esclarecida pelos Santos Padres e autores de obras sobre o santo Patriarca, os quais concentraram em três vínculos principais a subtil realidade que une São José a Jesus: o direito, que é conjugal; a virgindade e a autoridade que adornam o mistério de São José" (5).
          Na encíclica Quamquam pluries, o Papa Leão XIII afirmou: "É verdade que a dignidade da Mãe de Deus é tão alta que nada a pode ultrapassar. Porém, como existe entre a Virgem e São José um laço conjugal, não há a menor dúvida de que ele se aproximou mais do que ninguém dessa dignidade super eminente que coloca a Mãe de Deus muito acima de todas as criaturas."

Uma criatura dando conselhos ao Criador...

           Quantas vezes teve São José nos braços o Divino Infante? O dia inteiro no convívio com o Menino Jesus, observando-O rezar, falar, fazer todos os atos de sua vida comum...

            Nessa contemplação constante, para a qual ele tinha uma alma maravilhosamente apta, recebia graças extraordinárias e se deixava modelar. Por vezes, o Menino parava diante dele e dizia: "Peço-vos um conselho: como devo fazer tal coisa?" E São José se comovia, considerando que quem estava lhe pedindo um conselho era o próprio Filho de Deus! A esse homem a Providência concedeu lábios suficientemente puros e humildade bastante grande para fazer essa coisa formidável: responder a Deus.
            A criatura plasmada pelas mãos do Criador dava-Lhe conselhos! Ele foi o predestinado para exercer uma verdadeira autoridade sobre Nossa Senhora e o Menino Jesus, o privilegiado que alcançou uma altíssima intimidade com Jesus e Maria, o bem-aventurado a quem foi outorgada a graça de expirar entre os braços de Deus, seu Filho, e da Mãe de Deus, sua Esposa!

"Ao vencedor concederei assentar-se comigo no meu trono" (Ap 3, 21)

"Não separe o homem o que Deus uniu" (Mt 19, 6). Se, ao longo de sua existência terrena, José foi o inseparável companheiro da Virgem Maria, partilhando suas dores e alegrias, é inconcebível que na eternidade essa convivência não tenha atingido sua plenitude.

          Ora, para o convívio ser perfeito, é necessário estar juntos e olhar-se.

          Por esta razão, uma forte corrente de teólogos defende a tese de que "sem a assunção gloriosa de José em corpo e alma, a Sagrada Família reconstituída no Céu teria tido uma nota discordante na sua exaltação e glória" (6).
          A esse respeito, afirma São Francisco de Sales: "Se é verdade o que devemos acreditar, que, em virtude do Santíssimo Sacramento que recebemos, os nossos corpos hão de ressuscitar no dia do Juízo Final, como podemos duvidar de que Nosso Senhor tenha feito subir ao Céu, em corpo e alma, o glorioso São José, o qual teve a honra e a graça de trazê-Lo tantas vezes em seus braços benditos? Não resta dúvida, pois, de que São José está no Céu em corpo e alma".

Morte de São José

           Por ter falecido nos braços de Jesus e Maria, São José é o padroeiro da boa morte. Pois se julga, e com razão, que ninguém foi tão bem assistido como ele em seus últimos momentos.

Por ter falecido nos braços de Jesus e Maria, São José é o
padroeiro da boa morte. Pois se julga, e com razão, que
ninguém foi tão bem assistido como ele em seus
últimos momentos.

           Quase se poderia dizer que por isso o termo de sua vida foi tão suave e consolador que dele esteve ausente qualquer sofrimento ou angústia.
          No entanto, não podemos esquecer que para José esta foi a suprema perplexidade de sua existência terrena. Pois, ao falecer, separava-se do convívio inefável com sua virginal esposa e com Jesus, o Filho de Deus. José partia para a Eternidade, deixando na terra o seu Céu...
         A consideração do exemplo e dos preciosos dons concedidos por Deus ao pai adotivo de Jesus nos leve a confiar na poderosa intercessão daquele a quem o próprio Filho de Deus obedeceu: "E era-Lhes submisso" (Lc 2, 51).
          "O exemplo de São José - afirmou o Papa Bento XVI na comemoração de sua festa litúrgica - é para todos nós um forte convite a desempenhar com fidelidade, simplicidade e humildade a tarefa que a Providência nos destinou. Penso antes de tudo, nos pais e nas mães de família, e rezo para que saibam sempre apreciar a beleza de uma vida simples e laboriosa, cultivando com solicitude o relacionamento conjugal e cumprindo com entusiasmo a grande e difícil missão educativa. Aos sacerdotes, que exercem a paternidade em relação às comunidades eclesiais, São José obtenha que amem a Igreja com afeto e dedicação total, e ampare as pessoas consagradas na sua jubilosa e fiel observância dos conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência.
           Proteja os trabalhadores de todo o mundo, para que contribuam com as suas várias profissões para o progresso de toda a humanidade, e ajude cada cristão a realizar com confiança e com amor a vontade de Deus, cooperando assim para o cumprimento da obra da salvação" 22.