segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O tempo do Advento



Introdução

A palavra "advento" quer dizer "que está para vir". O tempo do Advento é para toda a Igreja, momento de forte mergulho na liturgia e na mística cristã. É tempo de espera e esperança, de estarmos atentos e vigilantes, preparando-nos alegremente para a vinda do Senhor, como uma noiva que se enfeita, se prepara para a chegada de seu noivo, seu amado.

O Advento começa às vésperas do Domingo mais próximo do dia 30 de Novembro e vai até as primeiras vésperas do Natal de Jesus contando quatro domingos.

Esse Tempo possui duas características: As duas últimas semanas, dos dias 17 a 24 de dezembro, visam em especial, a preparação para a celebração do Natal, a primeira vinda de Jesus entre nós. Nas duas primeiras semanas, a nossa expectativa se volta para a segunda vinda definitiva e gloriosa de Jesus Cristo, Salvador e Senhor da história, no final dos tempos. Por isto, o Tempo do Advento é um tempo de piedosa e alegre expectativa.

                                                                    Origem

Há relatos de que o Advento começou a ser vivido entre os séculos IV e VII em vários lugares do mundo, como preparação para a festa do Natal. No final do século IV na Gália (atual França) e na Espanha tinha caráter ascético com jejum abstinência e duração de 6 semanas como na Quaresma (quaresma de S. Martinho). Este caráter ascético para a preparação do Natal se devia à preparação dos catecúmenos para o batismo na festa da Epifania. Somente no final do século VII, em Roma, é acrescentado o aspecto escatológico do Advento, recordando a segunda vinda do Senhor e passou a ser celebrado durante 5 domingos.

Só após a reforma litúrgica é que o Advento passou a ser celebrado nos seus dois aspectos: a vinda definitiva do Senhor e a preparação para o Natal, mantendo a tradição das 4 semanas. A Igreja entendeu que não podia celebrar a liturgia, sem levar em consideração a sua essencial dimensão escatológica.

                                                      Teologia do Advento

O Advento recorda a dimensão histórica da salvação, evidencia a dimensão escatológica do mistério cristão e nos insere no caráter missionário da vinda de Cristo. Ao serem aprofundados os textos litúrgicos desse tempo, constata-se na história da humanidade o mistério da vinda do Senhor. Jesus que de fato se encarna e se torna presença salvífica na história, confirmando a promessa e a aliança feita ao povo de Israel. Deus que, ao se fazer carne, plenifica o tempo (Gl 4,4) e torna próximo o Reino (Mc 1,15) . O Advento recorda também o Deus da revelação, Aquele que é, que era e que vem (Ap 1, 4-8), que está sempre realizando a salvação mas cuja consumação se cumprirá no "dia do Senhor", no final dos tempos. O caráter missionário do Advento se manifesta na Igreja pelo anúncio do Reino e a sua acolhida pelo coração do homem até a manifestação gloriosa de Cristo. As figuras de João Batista e Maria são exemplos concretos da missionariedade de cada cristão, quer preparando o caminho do Senhor, quer levando o Cristo ao irmão para o santificar. Não se pode esquecer que toda a humanidade e a criação vivem em clima de advento, de ansiosa espera da manifestação cada vez mais visível do Reino de Deus.

A celebração do Advento é, portanto, um meio precioso e indispensável para nos ensinar sobre o mistério da salvação e assim termos a Jesus como referencia e fundamento, dispondo-nos a "perder" a vida em favor do anúncio e instalação do Reino.

                                                    Espiritualidade do advento

A liturgia do Advento nos impulsiona a reviver alguns dos valores essenciais cristãos, como a alegria expectante e vigilante, a esperança, a pobreza, a conversão.

Deus é fiel a suas promessas: o Salvador virá; daí a alegre expectativa, que deve nesse tempo, não só ser lembrada, mas vivida, pois aquilo que se espera acontecerá com certeza. Portanto, não se está diante de algo irreal, fictício, passado, mas diante de uma realidade concreta e atual. A esperança da Igreja é a esperança de Israel já realizada em Cristo mas que só se consumará definitivamente na parusia do Senhor. Por isso, o brado da Igreja característico nesse tempo é "Marana tha"! Vem Senhor Jesus!

O tempo do Advento é tempo de esperança porque Cristo é a nossa esperança (I Tm 1, 1); esperança na renovação de todas as coisas, na libertação das nossas misérias, pecados, fraquezas, na vida eterna, esperança que nos forma na paciência diante das dificuldades e tribulações da vida, diante das perseguições, etc.

O Advento também é tempo propício à conversão. Sem um retorno de todo o ser a Cristo não há como viver a alegria e a esperança na expectativa da Sua vinda. É necessário que "preparemos o caminho do Senhor" nas nossas próprias vidas, "lutando até o sangue" contra o pecado, através de uma maior disposição para a oração e mergulho na Palavra.

No Advento, precisamos nos questionar e aprofundar a vivência da pobreza. Não pobreza econômica, mas principalmente aquela que leva a confiar, se abandonar e depender inteiramente de Deus (e não dos bens terrenos), que tem n'Ele a única riqueza, a única esperança e que conduz à verdadeira humildade, mansidão e posse do Reino.

                                                    As Figuras do Advento:
ISAIAS
             É o profeta que, durante os tempos difíceis do exílio do povo eleito, levava a consolação e a esperança. Na segunda parte do seu livro, dos capítulos 40 - 55 (Livro da Consolação), anuncia a libertação, fala de um novo e glorioso êxodo e da criação de uma nova Jerusalém, reanimando assim, os exilados.
             As principais passagens deste livro são proclamadas durante o tempo do Advento num anúncio perene de esperança para os homens de todos os tempos.

JOÃO BATISTA
            É o último dos profetas e segundo o próprio Jesus, "mais que um profeta", "o maior entre os que nasceram de mulher", o mensageiro que veio diante d'Ele a fim de lhe preparar o caminho, anunciando a sua vinda (conf. Lc 7, 26 - 28), pregando aos povos a conversão, pelo conhecimento da salvação e perdão dos pecados (Lc 1, 76s).
            A figura de João Batista ao ser o precursor do Senhor e aponta-lO como presença já estabelecida no meio do povo, encarna todo o espírito do Advento; por isso ele ocupa um grande espaço na liturgia desse tempo, em especial no segundo e no terceiro domingo.
           João Batista é o modelo dos que são consagrados a Deus e que, no mundo de hoje, são chamados a também ser profetas e profecias do reino, vozes no deserto e caminho que sinaliza para o Senhor, permitindo, na própria vida, o crescimento de Jesus e a diminuição de si mesmo, levando, por sua vez os homens a despertar do torpor do pecado.

MARIA
         Não há melhor maneira de se viver o Advento que unindo-se a Maria como mãe, grávida de Jesus, esperando o seu nascimento. Assim como Deus precisou do sim de Maria, hoje, Ele também precisa do nosso sim para poder nascer e se manifestar no mundo; assim como Maria se "preparou" para o nascimento de Jesus, a começar pele renúncia e mudança de seus planos pessoais para sua vida inteira, nós precisamos nos preparar para vivenciar o Seu nascimento em nós mesmos e no mundo, também numa disposição de "Faça-se em mim segundo a sua Palavra" (Lc 1, 38), permitindo uma conversão do nosso modo de pensar, da nossa mentalidade, do nosso modo de viver, agir etc.

Em Maria encontramos se realizando, a expectativa messiânica de todo o Antigo Testamento.

JOSÉ
         Nos textos bíblicos do Advento, se destaca José, esposo de Maria, o homem justo e humilde que aceita a missão de ser o pai adotivo de Jesus. Ao ser da descendência de Davi e pai legal de Jesus, José tem um lugar especial na encarnação, permitindo que se cumpra em Jesus o título messiânico de "Filho de Davi".

José é justo por causa de sua fé, modelo de fé dos que querem entrar em diálogo e comunhão com Deus.

                                        A Celebração do Advento

O Advento deve ser celebrado com sobriedade e com discreta alegria. Não se canta o Glória, para que na festa do Natal, nos unamos aos anjos e entoemos este hino como algo novo, dando glória a Deus pela salvação que realiza no meio de nós. Pelo mesmo motivo, o diretório litúrgico da CNBB orienta que flores e instrumentos sejam usados com moderação, para que não seja antecipada a plena alegria do Natal de Jesus.

As vestes litúrgicas (casula, estola etc) são de cor roxa, bem como o pano que recobre o ambão, como sinal de conversão em preparação para a festa do Natal com exceção do terceiro domingo do Advento, Domingo da Alegria ou Domingo Gaudete, cuja cor tradicionalmente usada é a rósea, em substituição ao roxo, para revelar a alegria da vinda do libertador que está bem próxima e se refere a segunda leitura que diz: Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito, alegrai-vos, pois o Senhor está perto.(Fl 4, 4).

Vários símbolos do Advento nos ajudam a mergulhar no mistério da encarnação e a vivenciar melhor este tempo. Entre eles há a coroa ou grinalda do Advento. Ela é feita de galhos sempre verdes entrelaçados, formando um círculo, no qual são colocadas 4 grandes velas representando as 4 semanas do Advento. A coroa pode ser pendurada no prebistério, colocada no canto do altar ou em qualquer outro lugar visível. A cada domingo uma vela é acesa; no 1° domingo uma, no segundo duas e assim por diante até serem acesas as 4 velas no 4° domingo. A luz nascente indica a proximidade do Natal, quando Cristo salvador e luz do mundo brilhará para toda a humanidade, e representa também, nossa fé e nossa alegria pelo Deus que vem. O círculo sem começo e sem fim simboliza a eternidade; os ramos sempre verdes são sinais de esperança e da vida nova que Cristo trará e que não passa. A fita vermelha que enfeita a coroa representa o amor de Deus que nos envolve e a manifestação do nosso amor que espera ansioso o nascimento do Filho de Deus. A cor roxa das velas nos convida a purificar nossos corações em preparação para acolher o Cristo que vem. A vela de cor rosa, nos chama a alegria, pois o Senhor está próximo. Os detalhes dourados prefiguram a glória do Reino que virá.

Podemos também, em nossas casas, com as nossas famílias, mergulhar no espírito do Advento celebrando-o com a ajuda da coroa do Advento que pode ser colocada ao lado da mesa de refeição.


quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O devido respeito aos sacerdotes

Os ministros são ungidos meus. A respeito deles diz a Escritura: “Não toqueis nos meus cristos” (Sl 105, 15). Quem os punir cairá na maior infelicidade. Se me perguntares por que a culpa dos perseguidores da santa Igreja é a maior de todas e, ainda, por que não se deve ter menor respeito pelos meus ministros por causa de seus defeitos, respondo-te: porque, em virtude do sangue por eles ministrado, toda reverência feita a eles, na realidade não atinge a eles, mas a mim. Não fosse assim, poderíeis ter para com eles o mesmo comportamento de praxe para com os demais homens.

Quem vos obriga a respeitá-los é o ministério do sangue. Quando desejais receber os sacramentos, procurais meus ministros; não por eles mesmos, mas pelo poder que lhes dei. Se recusais fazê-lo, em caso de possibilidade, estais em perigo de condenação. A reverência é dada a mim e a meu Filho encarnado, que somos uma só coisa pela união da natureza divina com a humana. Mas também o desrespeito. Afirmo-te que devem ser respeitados pela autoridade que lhes dei, e por isso mesmo não podem ser ofendidos. Quem os ofende, a mim ofende. Disto a proibição: “Não quero que mãos humanas toquem nos meus cristos”! Nem poderá alguém escusar-se, dizendo: “Eu não ofendo a santa Igreja, nem me revolto contra ela; apenas sou contra os defeitos dos maus pastores”! Tal pessoa mente sobre a própria cabeça. O egoísmo a cegou e não vê. Aliás, vê; mas finge não enxergar, para abafar a voz da consciência. Ela compreende muito bem que está perseguindo o sangue do meu Filho e não os pastores.

Nestas coisas, injúria ou ato de reverência dirigem-se a mim. Qualquer injúria: caçoadas, traições, afrontas. Já disse e repito: não quero que meus cristos sejam ofendidos. Somente eu devo puni-los, não outros. No entanto, homens ímpios continuam a revelar a irreverência que têm pelo sangue de Cristo, o pouco apreço que possuem pelo amado tesouro que deixei para a vida e santificação de suas almas. Não poderíeis ter recebido maior presente que o todo-Deus e todo-Homem como alimento. Cada vez que o conceito relativo aos meus ministros não coloca em mim sua principal justificativa, torna-se inconsistente e a pessoa neles vê somente muitos defeitos e pecados. De tais defeitos falarei em outro lugar. Mas quando o respeito se fundamenta em mim, jamais desaparece, mesmo diante de defeitos nos ministros; como disse, a grandeza da eucaristia não é diminuída por causa dos pecados. A veneração pelos sacerdotes não pode cessar; se tal coisa acontecer, sinto-me ofendido.

Santa Catarina de Sena, “O Diálogo”, cap. 28. Paulus, 9ª edição, São Paulo, 2005- pp. 237-240

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Encontro com Jesus Eucaristia na Missa dominical é o pilar da vida de fé, afirma Bento XVI


VATICANO, 17 Nov. 10 / 02:42 pm (ACI).- Na audiência geral de hoje o Papa Bento XVI falou sobre Santa Juliana de Cornillon, que contribuiu à instituição da solenidade do Corpus Christi. Sobre esta santa, o Papa explicou, pode-se aprender o profundo amor a Cristo na Eucaristia com quem todo fiel deve encontrar-se na Missa dominical e na adoração eucarística para transformar com o amor a própria vida.

Na Praça de São Pedro e diante milhares de fiéis presentes, o Papa disse que nascida perto de Liège (Bélgica), no final do século XII, órfã aos cinco anos, Juliana "foi confiada aos cuidados das religiosas agustinas do convento-leprosário de Mont-Cornillon", tomando mais tarde o hábito agustino e chegando a ser prioresa do mesmo.

O Pontífice explicou que Santa Juliana "possuía uma notável cultura e um sentido profundo da presença de Cristo, que experimentava vivendo de modo particularmente intenso o Sacramento da Eucaristia".

Aos 16 anos teve uma visão que a levou a compreender a necessidade de instituir a festa do Corpus Cristi, "para que os fiéis adorassem a Eucaristia para aumentar sua fé, avançar na prática das virtudes e reparar as ofensas ao Santíssimo Sacramento".

Juliana "confiou a revelação a outras duas ferventes adoradoras da Eucaristia" e as três "estabeleceram uma espécie de ‘aliança espiritual’, com o propósito de glorificar o Santíssimo Sacramento".

Bento XVI assinalou que o bispo de Liège, Robert de Thourotte, depois de algumas dúvidas iniciais, aceitou a proposta da Juliana e suas companheiras, e instituiu pela primeira vez, a solenidade do Corpus Christi em sua diocese. Mais tarde, outros bispos o imitaram, estabelecendo a mesma festa nos territórios confiados a seus cuidados pastorais.

Juliana, disse o Papa, "teve que sofrer a forte oposição de alguns membros do clero e do próprio superior do qual dependia seu monastério. Então, decidiu deixar o convento de Mont-Cornillon com algumas companheiras, e durante dez anos, de 1248 a 1258, viveu em distintos mosteiros de monjas cistercenses", enquanto "continuava difundindo com devoção o culto eucarístico. Morreu em 1258, em Fosses-a-Ville, na Bélgica".

O Santo Padre recordou que o Papa Urbano IV, em 1264, quis instituir a solenidade do Corpus Christi como festa de preceito para a Igreja universal, na quinta-feira depois do Pentecostes. Para dar pessoalmente exemplo, celebrou esta solenidade em Orvieto, cidade na qual então vivia. Na catedral desta cidade se conserva o famoso corporal com as marcas do milagre eucarístico ocorrido em 1263, em Bolsena.

"Urbano IV pediu a um dos maiores teólogos da história, Santo Tomás de Aquino –que acompanhava o Papa nesse momento e se encontrava em Orvieto–, que compusera os textos do ofício litúrgico desta grande festa, para expressar louvor e gratidão ao Santíssimo Sacramento".

O Papa disse que "apesar de que após a morte de Urbano IV, a celebração da festa do Corpus Christi se limitava a algumas regiões da França, Alemanha, Hungria e do norte da Itália, o Papa João XXII, em 1317, estendeu-a a toda a Igreja".

Bento XVI exclamou logo: "Queria afirmar com alegria que hoje na Igreja há uma ‘primavera eucarística’: Quantas pessoas rezam em silencio ante o sacrário, mantendo uma conversação amorosa com Jesus!"

É reconfortante, acrescentou, "saber que muitos grupos de jovens tornaram a descobrir a beleza da adoração à Santa Eucaristia. Rezo para que esta ‘primavera eucarística’ se estenda cada vez mais em todas as paróquias, especialmente na Bélgica, a pátria de Santa Juliana".

Finalmente o Papa Bento XVI convidou a "renovar, recordando Santa Juliana de Cornillon, nossa fé na presença real de Cristo na Eucaristia a fidelidade ao encontro com Cristo Eucarístico na Santa Missa dominical é fundamental para o caminho de fé, mas busquemos também visitar com freqüência o Senhor presente no sacrário! Precisamente mediante a contemplação em adoração, o Senhor nos atrai para si, nos faz penetrar em seu mistério, para transformar-nos como transformou o pão e o vinho".

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Ser Católico

Ser católico é viver a fé como dom de Deus e tudo ofertar para o bem dos irmãos e irmãs.


“É não cair na tentação de pensar que as conquistas e os resultados só dependem do próprio esforço e da própria capacidade de programar e agir. Deus, com sua graça, tudo pode realizar e dar cumprimentos a tudo o que depende de cada um”

Um jovem me fez essa pergunta. Disse que há algum tempo está em crise de fé e tem buscado a solução em igrejas evangélicas. Em uma delas, ao se confessar católico, ouviu dizer que a palavra “católico” nem sequer está na Bíblia. Pedi que ele abrisse a sua Bíblia no Evangelho de Mateus, capítulo 28, versículos 18b-20.

“É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.”

Você percebeu que fiz questão de colocar em negrito uma palavrinha que aparece de modo insistente no texto: “TODO”. Jesus tem todo o poder; devemos anunciá-Lo a todos os povos, guardar todo o ensinamento d’Ele na certeza de que estará todos os dias conosco. Essa ordem de Cristo foi levada muito a sério pelos discípulos. Em grego a expressão “de acordo com o todo” pode ser traduzida por “Kat-holon”. Daí vem a palavra “católico” (em grego seria: Καθολικός). Ao longo do primeiro e segundo séculos os seguidores de Jesus Cristo começaram a ser reconhecidos como “cristãos” e “católicos”. As duas palavras eram utilizadas indistintamente. Ser católico já significava “ser plenamente cristão”. O Catolicismo, portanto, é o Cristianismo na sua “totalidade”. É a forma mais completa de obedecer ao mandato do Mestre antes de sua volta para o Pai. O mesmo mandato pode ser lido no Evangelho de Marcos 16,15: “Ide e pregai o Evangelho a toda criatura”. Há, portanto, uma catolicidade vertical, que é ter o Cristo todo, ou seja, ser discípulo; e uma catolicidade horizontal, que é levar o Cristo a todos, ou seja, ser missionário. Isso é ser católico: totalmente discípulo, totalmente missionário, totalmente cristão!

Ao que tudo indica o termo “católico” se tornou mais popular a partir de Santo Inácio de Antioquia (discípulo de São João), pelo ano 110 d.C. Pode significar tanto a “universalidade” da Igreja como a sua “autenticidade”. Quase na mesma época, São Policarpo utilizava o termo “católico” também nesses dois sentidos. São Cirilo de Jerusalém (315-386), bispo e doutor da Igreja, dizia: “A Igreja é católica porque está espalhada por todo o mundo; ensina em plenitude toda a doutrina que a humanidade deve conhecer; conduz toda a humanidade à obediência religiosa; é a cura universal para o pecado e possui todas as virtudes” (“Catechesis” 18:23).

Veja que já estão bem claros os dois sentidos de “católico” como “universal e ortodoxo”. Durante mil anos os dois significados estiveram unidos. Mas por volta do ano 1000 aconteceu um grande cisma, que dividiu a Igreja em “Ocidental e Oriental”. A Igreja do Ocidente continuou a ser denominada “católica” e a Igreja do Oriente adotou o adjetivo de “ortodoxa”. Na raiz as duas palavras remetem ao significado original de Igreja: “autêntica”.

A Igreja católica reconhece que cristãos de outras Igrejas podem ter o batismo válido e possuir sementes da verdade em sua fé. Porém, sabe que apenas ela conserva e ensina, sem corrupção, TODA a doutrina apostólica e possui TODOS os meios de salvação.

Devemos viver e promover a sensibilidade ecumênica favorecendo a fraternidade com os irmãos que pensam ou vivem a fé cristã de um modo diferente. Mas isso não significa abrir mão de nossa catolicidade. Quando celebramos a Eucaristia seguimos à risca a ordem do Mestre, que disse: “Fazei isso em memória de mim!” A falta da Eucaristia deixa uma grande lacuna em algumas Igrejas. Um pastor evangélico, certa vez, me disse que gostaria de rezar a Ave-Maria, mas, por ser evangélico, não conseguia. Perguntei por quê? Ele disse que se sentia incomodado toda vez que lia o “Magnificat” em que a Santíssima Virgem proclama: “Todas as gerações me chamarão de bendita” (Lc 1,48)… E se questionava sobre o porquê de sua geração tão evangélica não fazer parte desta geração que proclama Bem-aventurada a Mãe do Salvador!

Realmente, ser católico é ser totalmente cristão!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O castigo do caluniador

Tinha a Rainha Santa Isabel, esposa do Rei Dom Dinis, um criado de confiança, muito bom e fiel, a quem costumava entregar as esmolas dos pobres.


Outro criado, invejoso e caluniador, levara a mal a confiança da Rainha.

Ferido de ciúmes, vai ter com o rei e começa com grandes fingimentos, sem acabar de dizer o que queria. Por meias palavras dava a entender que o caso era grave e aguçava assim a curiosidade do rei. Até que ele, irritado, gritou:

– Fala por uma vez, e fala já!

Foi então que o invejoso se saiu com uma mentira muito feia contra o próprio amigo. Nada mais, nada menos, que andava a conquistar o amor da rainha.

O rei acreditou. Furioso, saiu para o campo, a espairecer e, ao mesmo tempo, a preparar o castigo para o criminoso.

Passando por um forno, onde se queimava cal, teve uma idéia. Era ali que haveria de morrer o malvado. E diz ao forneiro:

— Amanhã, muito cedo há de vir aqui um homem a perguntar da minha parte: — Já está feito o que o rei mandou? Quando ele disser tais palavras agarrai-o e arremessai-o ao forno. É um criminoso que merece tal castigo.

No dia seguinte, pela manhã, chamou Dom Dinis o pajem, de confiança da rainha e disse-lhe que fosse ao forno de cal perguntar se já estava feito o que o rei tinha mandado.

Partiu logo o inocente rapaz. Ao passar por uma igreja, ouvindo tocar os sinos, entrou e ficou até ao fim da missa. Seguiram-se mais duas e ouviu-as também. Ansioso o rei por saber do sucedido, mandou, passada uma hora, o seu criado (o invejoso) perguntar ao forneiro se já estava cumprido o que na véspera lhe tinha mandado.

Partiu o caluniador, com grande pressa.

O caluniador – Já está feito o que o rei mandou? – Mal acabava de perguntar e os homens do forno o agarraram-no. Apesar dos seus protestos e gritos amarraram-no e lançaram ao forno, onde em breve ficou reduzido a cinzas. Pouco depois compareceu o criado inocente, perguntando:

—Já está feito o que o rei mandou?

—Sim, está tudo feito e acabado.

Correu o rapaz para o paço a dar a notícia. Ao vê-lo são e salvo assombrou-se Dom Dinis e não pôde conter-se sem bradar:

—Como é isto? Que fizeste?

—Senhor – confessou ingenuamente o pajem – eu ia cumprir a vossas ordens quando em uma igreja ouvi os sinos. Entrei e ouvi aquela missa e mais duas, porque o meu pai, à hora da morte me recomendou que ficasse até o fim das missas que ouvisse começar. Como sempre assim fiz, também hoje não quis faltar.

Assombrado ficou o rei, vendo aqui a justiça de Deus.

Abriram-se-lhe, de repente, os olhos da alma. Reconheceu a inocência da rainha, a virtude deste pajem e a maldade do outro.

Grande recompensa de quem tanto estimava a missa! E castigo tremendo para o criado caluniador.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Deus não exclui ninguém


"Deus não se deixa condicionar pelos nossos preconceitos humanos, mas vê em cada um de nós uma alma para salvar", recordou o Papa, no domingo 31 de Outubro, dirigindo-se aos milhares de fiéis reunidos na praça de São Pedro para a oração mariana do Angelus.

Queridos irmãos e irmãs!

O Evangelista São Lucas reserva uma atenção especial ao tema da misericórdia de Jesus. Com efeito, na sua narração encontramos alguns episódios que relevam o amor misericordioso de Deus e de Cristo, o qual afirma que veio chamar não os justos, mas os pecadores (cf. Lc 5, 32). Entre as narrações típicas de Lucas está a da conversão de Zaqueu, que se lê na liturgia deste domingo. Zaqueu é um "publicano", aliás, o chefe dos publicanos de Jericó, importante cidade nas margens do Rio Jordão. Os publicanos eram os cobradores de impostos aos quais os judeus deviam pagar o tributo do Imperador romano, e já por este motivo eram considerados pecadores públicos. Além disso, com frequência aproveitavam da sua posição para extorquir dinheiro do povo. Por isso Zaqueu era muito rico, mas desprezado pelos seus concidadãos. Quando então Jesus, atravessando Jericó, se deteve exactamente na casa de Zaqueu, suscitou um escândalo geral. Contudo, o Senhor sabia muito bem o que fazia. Ele, por assim dizer, queria arriscar, e venceu a aposta: Zaqueu, profundamente impressionado pela visita de Jesus, decide mudar de vida e promete restituir o quádruplo do que tinha roubado. "Veio hoje a salvação a esta casa", diz Jesus, e conclui: "o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido".

Deus não exclui ninguém, nem pobres nem ricos. Deus não se deixa condicionar pelos nossos preconceitos humanos, mas vê em cada um de nós uma alma para salvar e é atraído especialmente por aquelas que são julgadas perdidas e se consideram elas mesmas tais. Jesus Cristo, encarnação de Deus, demonstrou esta imensa misericórdia, que nada tira à gravidade do pecado mas visa sempre salvar o pecador, a oferecer-lhe a possibilidade da remissão, de recomeçar do início, de se converter. Noutro trecho do Evangelho, Jesus afirma que é muito difícil para um rico entrar no Reino dos céus (cf. Mt 19, 23). No caso de Zaqueu, vemos que quanto parece impossível se realiza: "Ele - comenta São Jerónimo - ofereceu a sua riqueza e imediatamente a substituiu com a riqueza do reino dos céus" (Homilia sobre o salmo 83, 3). E São Máximo de Turim acrescenta: "As riquezas, para os tolos são um alimento para a desonestidade, para os sábios, ao contrário, são uma ajuda para a virtude; a estes oferece-se uma oportunidade para a salvação, àqueles obtém um empecilho que os perde" (Sermões, 95).

Queridos amigos, Zaqueu acolheu Jesus e converteu-se porque Jesus o acolheu antes! Não o condenou, mas foi ao encontro do seu desejo de salvação. Peçamos à Virgem Maria, modelo perfeito de comunhão com Jesus, para que também nós possamos experimentar a alegria de ser visitados pelo Filho de Deus, de ser renovados pelo seu amor, e transmitir aos outros a sua misericórdia.

Cinco bispos anglicanos anunciam conversão ao catolicismo

08/11/2010 - 18h28


Cinco bispos anglicanos anunciam conversão ao catolicismo

DA BBC BRASIL

Três bispos anglicanos em atividade e dois bispos aposentados vão passar a servir à Igreja Católica, informou o Vaticano nesta segunda-feira.

Os bispos estão deixando a Igreja Anglicana por divergências quanto à ordenação de homossexuais e mulheres, o que contraria os sacerdotes mais tradicionais.

Na tentativa de abrigar os descontentes com a Igreja Anglicana, a Santa Sé autorizou a adesão dos bispos anglicanos ao catolicismo, apesar de alguns serem casados e pais de família.

Em decisão de 2009, o Vaticano havia dito que padres anglicanos casados que queiram se converter terão seus pedidos analisados, caso a caso. Mas advertiu que isso não significava uma mudança na condição de celibato entre seus padres.

A Conferência de Bispos Católicos britânica disse que fará uma plenária no mês que vem para discutir a ordenação dos cinco anglicanos, mas já lhes deu as boas-vindas.

Já o arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, líder espiritual da Igreja Anglicana, lamentou as renúncias dos bispos, mas desejou-lhes sorte "na próxima etapa de seu serviço à Igreja".

DIVERGÊNCIAS

Robert Pigott, analista de assuntos religiosos da BBC, diz que a renúncia dos anglicanos não é surpreendente.

Os bispos em questão --Andrew Burnham, Keith Newton e John Broadhurst, em atividade, e Edwin Barnes e David Silk, aposentados-- já cuidavam de paróquias "que não aceitavam a decisão de 1992 da Igreja de ordenar mulheres ao sacerdócio", diz Pigott.

No entanto, como os bispos têm cargos de destaque na hierarquia da Igreja, sua decisão é um marco importante e pode influenciar a saída de outros sacerdotes.

Os tradicionalistas advogam que, segundo a crença de que Jesus escolheu homens para serem seus apóstolos - e, portanto, liderarem a Igreja--, as mulheres não podem cumprir esse papel.

Em entrevista à BBC, Burnham disse que a ordenação feminina era um ponto importante de discórdia, mas atribuiu sua decisão de "aceitar o convite do papa" por achar que a Igreja Anglicana está se afastando de seus princípios e "fazendo suas próprias regras".

Em comunicado, os cinco bispos dissidentes haviam dito que repudiavam o "distanciamento" crescente entre anglicanos e católicos.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Indulgência pelos Fiéis Defuntos

A palavra indulgência vem do latim indulgentia do verbo indulgeo, que quer dizer remissão de um débito. As indulgências concedidas pela Santa Igreja vem ao nosso socorro para remir nossas penas temporais devidas pelos pecados veniais ou pelos pecados mortais confessados.


Ensina-nos o catecismo de São Pio X:

“793. A indulgência é a remissão da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, remissão que a Igreja concede fora do Sacramento da Penitência”
Que isto significa?

Quem comete um pecado mortal, ofende infinitamente a Deus, rompendo os laços da vida sobrenatural que nos unem a Ele. Daí o nome pecado mortal.

Tal delito possui uma pena infinita, pois Deus é infinito. Com a confissão, Deus em sua misericórdia perdoa esta culpa. Então, a pena que era infinita é transmutada para uma pena finita – é a satisfação, a penitência que o Padre pede depois da absolvição. Ora, como somos imperfeitos não conseguimos cumprir com diligência esta penitência, portanto sempre estamos devedores diante de Deus. A Igreja concede então uma multidão de ocasiões para lucrarmos indulgências que nos ajudam a remir esta pena temporal.

Continua o Catecismo:

“796. Quem tem o poder de conceder indulgências?

O poder de conceder indulgências pertence ao Papa em toda a Igreja, e ao Bispo, na sua diocese, na medida em que lhe é concedido pelo Papa”.

Foi de Cristo que a Igreja recebeu o poder de conceder indulgências (n. 794), e no atributo de suas funções a Igreja formulou um catálogo destas indulgências.

Atualmente, está em vigor a Constituição Apostólica Indulgentiarum Doctrina, promulgado pelo Papa Paulo VI através do Enquirídio ou Manual de Indulgências de 1967; cf. Enchiridion Indulgentiarum, Vaticano 1967.

Quanto a indulgência conferida aos fiéis defuntos lê-se o seguinte:

“Visita de cemitério. Quem visite, com ânimo religioso, um cemitério e nele ore pelos fiéis defuntos, lucra indulgência em favor das almas do purgatório, indulgência que de 12 a 8 de novembro é plenária, e nos demais dias do ano é parcial.” (cf. O CATÁLOGO DAS INDULGÊNCIAS, D. Estêvão Bettencourt)
      Portanto, a indulgência, quando rezamos pelos fiéis defuntos num cemitério, é dirigida às almas dos defuntos, não sendo aplicáveis a nós.

O Dia dos Mortos e o Purgatório.


Neste dia 2 de novembro comemoramos o dia dos “Fiéis Defuntos”, o dia dos mortos… O nosso coração se volta à lembrança daqueles que passaram em nossa vida e que foram importantes para nós.

       Onde estarão todos? É a pergunta que fazemos olhando para os túmulos que se levantam, tendo erguida a Santa Cruz, nossa única esperança.
       Todos fomos criados por Deus para o céu. Ver a Deus é a nossa plena felicidade, é a nossa meta. Nosso único objetivo: “Senhor é a vossa face que o procuro” (Sl 27,8).

A Santa Igreja ensina a existência de duas realidades eternas para a alma: uma é o céu: a visão beatífica, a posse da felicidade plena que é a participação na vida divina e trinitária. São Paulo nos fala e nos estimula a buscar “As coisas do Alto” e nos diz: “olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu, mente nenhuma imaginou o que Deus preparou para aqueles que o amam” ( I Cor 2,9).

Outra realidade, portanto, é o inferno, a perda eterna, por culpa própria, do Sumo Bem: “Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão e Isaque e Jacó, e todos os profetas no reino de Deus, e vós lançados fora” (Lc 13, 28).

É doutrina infalível da Igreja, portanto de Fé Católica, a existência de um estágio intermediário para alma que precisa de uma maior purificação antes de entrar no céu, na vida de Deus. É um “local” onde ficam as almas que morreram em estado de graça, isto é, sem pecado mortal, mas que necessitam de maior purificação, visto que os pecados cometidos na terra e, contritamente, chorados e perdoados pela confissão sacramental, imprimiram na alma uma macha (culpa temporal do pecado) e esta deverá ser retirada, visto que Deus sendo Sumo Bem e de Santidade inefável, nada admite em si que não seja santidade perfeita, pois no céu nada de impuro pode entrar (Ap 21, 27).

A sagrada Escritura nos traz alusão ao purgatório. Nosso Senhor ensina a sua existência, por isso podemos dizer que é de Verdade Positiva, revelada pelo próprio Deus. Vejamos:
      “Reconcilia-te com o teu adversário… enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao ministro e te encerrem na prisão. Em verdade te digo que, de modo nenhum, sairás dali, enquanto não pagares até o último centavo” (Mt 5, 25-26).

Agora, S. Paulo:
         I Cor 3, 12-15: “…Aquele, cuja obra (de ouro, prata, pedras preciosas) sobre o alicerce resistir, esse receberá a sua paga, aquele, pelo contrário, cuja obra, (de madeira, feno, ou palha), for queimada, esse há de sofrer prejuízo; ele próprio, porém, poderá salvar-se, mas como que através do fogo”.

    Aqui ficam apenas esses dois textos, embora existam mais. Também fazendo uso da razão poderíamos pensar para onde iriam as almas que não foram tão más, mas que tinham algumas imperfeições e defeitos a vencer, que não eram bastante santas para irem diretas ao céu, nem tão pérfidas para descerem aos infernos…

Vejamos esse texto do AT, onde já se acreditava na necessidade de se rezar pelos mortos, para ajudá-los em seu estágio de purificação.
          “Judas, tendo feito uma coleta, mandou duas mil dracmas de prata a Jerusalém, para se oferecer um sacrifício pelo pecado. Obra bela e santa, inspirada pela crença na ressurreição… Santo e salutar pensamento de orar pelos mortos. Eis porque ele ofereceu um sacrifício expiatório pelos defuntos, para que fossem livres de seus pecados.” (II Mc 12, 43)

Não é difícil de se ver aqui, com clareza, a fé na existência do purgatório, visto que depois de mortos, podem ser livres de seus pecados pelo “sacrifício expiatório”, logo não se trata do inferno, pois este é eterno, mas de um estado intermediário para alma.

Esta Verdade de Fé foi promulgada pelo Santo Concílio de Trento, em sua sessão XXV (cf. Sess. XXV, D. B. 983).

Das Penas Temporais do Pecado.

Falemos das Penas Temporais do Pecado, pois são elas que levam muitas almas ao purgatório, onde depois de um certo “tempo”, livres de toda macha, entram na Felicidade Eterna de Deus.

Vejamos: quando alguém gera um dano ao outro, embora perdoado pelo mesmo, tem a obrigação de reparar o mal que causou. Se alguém rouba uma jóia, se arrepende, é perdoado pelo lesado, mas tem a obrigação moral de devolver o objeto roubado.

Na Sagrada Escritura encontramos exemplos claros de expiação da culpa temporal.
       Davi é perdoado pelo adultério e assassinato de Urias, assim que humildemente reconheceu a sua culpa, mas teve que sofrer a perda do filho (2Sm 12, 13); Moisés e Araão por não terem tido, algumas vezes em suas vidas, firmeza de fé, foram, por castigo, privados de entrar na Terra da Promessa (Nm 2, 12s).

Imaginemos ainda uma camisa branca, exposta à poeira. Ora tem certas manchas que basta abrir a torneira, molhar um pouco, leve esfregão e… pronto. Outras manchas já não saem tão rápido: deve-se colocar sabão, esfregar… outras mais intensas demoram a sair e usa-se de outros recursos: água sanitária, detergente, deixa-se de “molho” por algumas horas, um dia… e tem dona de casa que gosta de colocar no sol, a fim de amolecerem as manchas e com isso saírem mais facilmente.

Na confissão bem feita e contrita, nos livramos das Penas Eternas do Pecado (o inferno), mas as manchas que o pecado provocou em nós (penas temporais) ficam em nossa alma e devem ser retiradas ainda nesta vida através de várias práticas, tais como jejuns, penitência, esmolas, indulgência recebida, acolhimento resignado do sofrimento, ou no purgatório após a morte.

Da duração das penas.

     As almas no purgatório já estão salvas, por isso as chamamos de “benditas”, entretanto sofrem imensamente no fogo purificador por causa dos pecados cometidos.

Alguns santos da Igreja, em suas experiências místicas nos falaram sobre a realidade do purgatório.

S. Vicente Ferrer nos fala que há almas que ficaram no purgatório um ano inteiro por um só pecado cometido. Santa Francisca afirma que a maioria das almas do purgatório lá sofrem de trinta a quarenta anos. Muitos santos viram almas destinadas a sofrer no purgatório até o fim do mundo. Nossa Senhora, ela mesma em Fátima, indagada pelo destino de algumas pessoas da convivência de Lúcia e, respondendo particularmente sobre uma certa Maria da Luz, diz: “Esta estará no purgatório até o fim do mundo”.

Os santos também ensinam que as almas simples e humildes, sobretudo as que muito sofreram neste mundo com paciência e se conformaram perfeitamente com a vontade de Deus, podem ter um purgatório muitíssimo abreviado, às vezes horas…

S. Paulo da Cruz, estando em oração, ouviu que batiam à porta com força. – “Que queres de mim”, pergunta.

“- Quanto sofro. Quanto sofro, meu Deus! Sou a alma daquele padre falecido. Há tanto tempo estou num oceano de fogo, há tanto tempo!… Parecem mil anos!”
         São Paulo da Cruz, comovido, reconheceu o padre e disse: “mas faz tão pouco tempo que você faleceu e já fala de mil anos?”. O santo orou muito por ele e no dia seguinte celebrou a Missa pelo defunto. Viu-o, então, entrar triunfante no céu, na hora da comunhão.

Santa Lutgarda viu Papa Inocêncio III dizendo que deveria ficar no purgatório até o fim do mundo por algumas faltas no governo da Igreja.
        Nosso Senhor mostrou-lhe ainda quatro padres que estavam lá já mais de cinquenta anos, por administrarem mal os Ss. Sacramentos.

Santa Verônica Juliani: Ela fala de uma irmã que deveria ali permanecer tantos anos quantos passou neste mundo.

Ao padre Scoof, de Louvain, foi revelado que um banqueiro de Antuérpia estava no purgatório há mais de duzentos anos porque tinham rezado pouco por ele.

Os Terríveis Sofrimentos no Purgatório.

Santo Tomás nos ensina que no purgatório não há tempo, mas etapas psicológicas sucessivas, o que ele chama de Evo.

O que os santos doutores da Igreja nos falam sobre os terríveis sofrimentos no purgatório, deveria nos encher de grande misericórdia e nos fazer rezar mais e mais pelas almas que ali se encontram.

S. Boaventura ensina que nossos maiores sofrimentos ficam muito aquém dos que ali se padecem.

São Tomás diz que o menor dos seus sofrimentos ultrapassam os maiores tormentos que possamos suportar. Confirmam esse ensinamento Santo Ambrósio e São João Crisóstomo:que todos os tormentos que o furor dos perseguidores e dos demônios inventaram contra os mártires, jamais atingirão a intensidade dos que padecem em tal lugar de expiação”.

Quanto ao fogo do purgatório.

      É um fogo real, embora não material. As almas nele são lançadas inteiramente: um fogo ativo, penetrante que vai até o mais íntimo do ser, que queima intensamente à medida da consciência que lá se toma do amor incondicional de Deus e da resposta negativa que a ele se deu pelo pecado. Agora, a alma iluminada pela Verdade e Luz divinas vê-se queimada por dentro, em sua essência.

Diz Santo Antônio que esse fogo é de tal maneira rigoroso que comparado com o nosso, da terra, o nosso parece às almas no purgatório, como pintura de painel… elas bem desejariam está no nosso fogo material…

Santa Catarina de Gênova teve uma visão do purgatório e exclamou: “Que coisa Terrível! Confesso que nada posso dizer e nem conceber que se aproxime sequer da realidade. As penas que lá se padecem são tão dolorosas como as penas do inferno”.

S. Nicolau Tolentino viu em êxtase “um imenso vale onde multidões de almas se retorciam de dor num braseiro imenso e gemiam de cortar o coração. Ao perceberem o Santo, bradavam suplicantes, estendendo os braços e pedindo misericórdia e socorro. ‘Padre Nicolau, tem piedade de nós! Se celebrares a Santa Missa por nós, quase todas seremos libertadas de nossos dolorosos tormentos’. São Nicolau celebrou sete missas em sufrágio dessas almas. Durante a última missa apareceu-lhe uma multidão de almas resplandecentes de glória que subiam ao céu”.

No purgatório não há ingratidão. Elas jamais se esquecem daqueles que rezaram e se sacrificaram por elas. E, uma vez, entrando no céu por nossas orações, pedirão incessantemente pela nossa salvação eterna.

Não as deixemos sozinhas. Rezemos, mandemos celebrar missas e missas em sufrágio das pobres almas. Elas já nada podem fazer por elas, necessitam só e somente só das nossas orações. Para elas passaram o tempo e agora se encontram nos suplícios expiatórios.

Há almas que ficam mais “tempo” no purgatório por falta de oração e sacrifício da nossa parte. Cuidemos delas e elas cuidarão de nós.

E ao chegar o dia dos mortos, com os sinos que dobram em sinais de tristeza, rezemos por esses nossos irmãos que já transpuseram os umbrais da eternidade e unidos à Santa Igreja neste dia, rezemos:

Requiem æternam dona eis, Domine,
et lux perpetua luceat eis.