terça-feira, 9 de novembro de 2010

Deus não exclui ninguém


"Deus não se deixa condicionar pelos nossos preconceitos humanos, mas vê em cada um de nós uma alma para salvar", recordou o Papa, no domingo 31 de Outubro, dirigindo-se aos milhares de fiéis reunidos na praça de São Pedro para a oração mariana do Angelus.

Queridos irmãos e irmãs!

O Evangelista São Lucas reserva uma atenção especial ao tema da misericórdia de Jesus. Com efeito, na sua narração encontramos alguns episódios que relevam o amor misericordioso de Deus e de Cristo, o qual afirma que veio chamar não os justos, mas os pecadores (cf. Lc 5, 32). Entre as narrações típicas de Lucas está a da conversão de Zaqueu, que se lê na liturgia deste domingo. Zaqueu é um "publicano", aliás, o chefe dos publicanos de Jericó, importante cidade nas margens do Rio Jordão. Os publicanos eram os cobradores de impostos aos quais os judeus deviam pagar o tributo do Imperador romano, e já por este motivo eram considerados pecadores públicos. Além disso, com frequência aproveitavam da sua posição para extorquir dinheiro do povo. Por isso Zaqueu era muito rico, mas desprezado pelos seus concidadãos. Quando então Jesus, atravessando Jericó, se deteve exactamente na casa de Zaqueu, suscitou um escândalo geral. Contudo, o Senhor sabia muito bem o que fazia. Ele, por assim dizer, queria arriscar, e venceu a aposta: Zaqueu, profundamente impressionado pela visita de Jesus, decide mudar de vida e promete restituir o quádruplo do que tinha roubado. "Veio hoje a salvação a esta casa", diz Jesus, e conclui: "o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido".

Deus não exclui ninguém, nem pobres nem ricos. Deus não se deixa condicionar pelos nossos preconceitos humanos, mas vê em cada um de nós uma alma para salvar e é atraído especialmente por aquelas que são julgadas perdidas e se consideram elas mesmas tais. Jesus Cristo, encarnação de Deus, demonstrou esta imensa misericórdia, que nada tira à gravidade do pecado mas visa sempre salvar o pecador, a oferecer-lhe a possibilidade da remissão, de recomeçar do início, de se converter. Noutro trecho do Evangelho, Jesus afirma que é muito difícil para um rico entrar no Reino dos céus (cf. Mt 19, 23). No caso de Zaqueu, vemos que quanto parece impossível se realiza: "Ele - comenta São Jerónimo - ofereceu a sua riqueza e imediatamente a substituiu com a riqueza do reino dos céus" (Homilia sobre o salmo 83, 3). E São Máximo de Turim acrescenta: "As riquezas, para os tolos são um alimento para a desonestidade, para os sábios, ao contrário, são uma ajuda para a virtude; a estes oferece-se uma oportunidade para a salvação, àqueles obtém um empecilho que os perde" (Sermões, 95).

Queridos amigos, Zaqueu acolheu Jesus e converteu-se porque Jesus o acolheu antes! Não o condenou, mas foi ao encontro do seu desejo de salvação. Peçamos à Virgem Maria, modelo perfeito de comunhão com Jesus, para que também nós possamos experimentar a alegria de ser visitados pelo Filho de Deus, de ser renovados pelo seu amor, e transmitir aos outros a sua misericórdia.

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