quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Sacramento da Confissão



PRÓLOGO
O Padre Valeriano de Oliveira é um Sacerdote eremita (já octogenário), na Comunidade Sol de Deus - Itajubá-MG - Arquidiocese de Pouso Alegre.
Foi casado durante 20 anos.
Ao falecer a sua esposa, em 1978, completou os seus estudos de Teologia em Taubaté, e foi ordenado Sacerdote em 1984.
Desde a sua ordenação, dedicou-se incansavelmente ao Ministério da Reconciliação.


Este opúsculo, como ele mesmo diz na apresentação do livro, é fruto de toda a sua experiência no Sagrado Ministério de reconciliar as almas com Deus.


Vem comigo.
Vou levar-te à fonte maravilhosa da Paz.
Conheço bem o caminho. Eu vivo lá.
Mas prepara-te. É longa a caminhada.
Começa por colocar em ordem a tua vida.
Põe tranquilidade no teu viver...
para que mereças a Paz que jorra dessa fonte.
A tão doce e sonhada Paz!
O que é a Paz, senão «a tranquilidade na ordem» [1] ?


[1] - Santo Agostinho


Reconcilia-te com Deus.
Reconcilia-te com teu próximo.
Reconcilia-te contigo mesmo... e terás a Paz!
É tão bom viver num ambiente tranquilo,
onde reinam a ordem, a tranquilidade e a paz!
Assim deve ser o teu coração.
Sabes que o teu coração foi feito para amar?
Claro, para amar o Amor, antes de amar mais alguém...
Para amar o Amor, e só depois amar alguém... no Amor.
Ou amar o Amor em alguém.
E o Amor tem nome: ele chama-se JESUS.
Só assim, o teu coração estabelecer-se-á na verdadeira Paz,
que não vem do mundo, nem dos homens, mas do Senhor:
«Deixo-vos a paz. Dou-vos a Minha paz.
Não vo-la dou como o mundo a dá.
Não se perturbe o vosso coração, nem se atemorize!»
(Jo 14, 27)


Reconcilia-te com Deus... e com o teu irmão.
Dá o primeiro passo, não esperando que o teu irmão o faça.
Não é fácil dar o primeiro passo.
É mesmo muito difícil, e por vezes muito doloroso.
Mas é necessário.
Exige a negação de si mesmo e a aceitação da cruz.
Mas vale a pena.


Jesus deu-te o exemplo e convida-te a segui-lo, a imitá-lo:
«Se alguém quiser seguir-me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me».
(Mc 8, 34)


Tens que dar o primeiro passo, sejas tu o ofensor ou o ofendido.
E na realidade, esse primeiro passo em direcção a alguém, acaba em direcção a outro Alguém... que já deu o primeiro passo ao teu encontro.
Não foste tu quem primeiro amou a Deus, mas foi Ele quem te amou primeiro, e enviou o seu próprio Filho para expiar os teus pecados. (Jo 4, 10)


Reconcilia-te com Deus, mas reconcilia-te primeiro com o teu irmão.
E assim estarás reconciliado contigo mesmo.
Esta é a fonte maravilhosa da Paz!



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APRESENTAÇÃO


O SACRAMENTO DA RECONCILIAÇÃO

Este é um opúsculo sobre a Reconciliação.
O nome já o diz: uma pequenina obra.
E por ser pequena, não pode, evidentemente, exaurir a matéria.
Mas pelo menos focalizará o essencial, para quem queira preparar-se para fazer uma boa Confissão.


É propósito do autor tratar da matéria com muita simplicidade, clareza e objectividade, tanto mais que tudo o que ele diz aqui é fruto da sua própria experiência no exercício do ministério da Reconciliação.
E na verdade, esse ministério é um dos mais gratificantes na vida do Sacerdote:



Primeiro, porque lhe dá a oportunidade de se exercitar e crescer na virtude da paciência e no dom da escuta.
Hoje em dia, todo o mundo quer falar; não sobra ninguém para ouvir.


Segundo, porque lhe permite entrar na privacidade das consciências, o que, a par de ser uma terrível responsabilidade, é ao mesmo tempo um privilégio inaudito, pois obriga-o a uma grande dignidade de comportamento e a uma não menor santidade de vida.
Depositário dos segredos de tantas consciências, coração angustiado por tantas dores que ele mal consegue aliviar, mas ao mesmo tempo consolado e edificado por tantas riquezas interiores que vai descobrindo, o Sacerdote só mesmo por graça de Deus consegue manter o próprio equilíbrio.


Compreende-se assim como muitos deles procuram esquivar-se desse ministério.
E tudo isso acontece por causa de Você, meu caro leitor.


O Sacerdote é escolhido por Deus, chamado e ordenado para servir a Você...
Tal como o Papa, que a si mesmo se chama "Servo dos servos de Deus", e como o próprio Jesus que disse de Si mesmo:


«O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir...» (Mt 20, 28).


E neste espírito de serviço, decidi escrever com muito carinho este opúsculo, para ajudar Você a aproveitar o melhor possível este tesouro, que o Senhor Jesus nos deixou: O santo Sacramento da Reconciliação.


CAPÍTULO I



COMO RECONCILIAR-SE COM DEUS?


Pelo Sacramento da Reconciliação.
Antes de voltar ao Pai, tendo-nos amado até ao extremo, a nós que éramos Seus e estávamos no mundo, o Senhor deixou-nos dois presentes maravilhosos:
O Sacramento do Amor (a Eucaristia), e o Sacramento da Paz (a Confissão, ou Reconciliação).


Um é alimento, outro é remédio; embora ambos alimentem e ambos curem.


A Confissão, ou sacramento da Reconciliação, é a fonte maravilhosa da Paz, e o remédio para todos os males.


Porque, na realidade, só existe um mal, o pecado.
Como só existe, depois do Baptismo, um só remédio para esse mal:
O arrependimento sincero, seguido duma Confissão bem feita.
Este Sacramento não é só a fonte maravilhosa da Paz, mas ele é também a fonte da Divina Misericórdia, como o Senhor revelou à Sua serva Santa Faustina, n.ºs 1448 e 1602 do seu Diário:


«Escreve, filha, fala da minha Misericórdia. Diz às almas onde devem procurar consolo, isto é, no tribunal da Misericórdia, onde continuo a realizar os Meus maiores prodígios, que se renovam sem cessar.
Para obtê-los, não é necessário empreender longas peregrinações, nem realizar exteriormente grandes cerimónias; basta aproximar-se com Fé dos pés do Meu representante e confessar-lhe a própria miséria.
O milagre da Misericórdia de Deus fará ressurgir aquela alma para uma vida plena. Ó infelizes, que não aproveitais esse milagre da Misericórdia de Deus! Clamareis em vão, pois já será tarde demais!
«Filha, quando te aproximas da santa Confissão, dessa fonte da minha Misericórdia, sempre desce na tua alma o meu Sangue e a água que saíram do meu Coração, enobrecendo a tua alma.


Cada vez que te aproximares da santa Confissão, mergulha-te toda na minha Misericórdia com grande confiança, para que ela possa derramar na tua alma a abundância da minha Graça.
Quando te aproximas da santa Confissão, deves saber que sou Eu mesmo quem espera por ti no Confessionário; oculto-me apenas no Sacerdote, mas Eu mesmo actuo na alma.
«Aí, a miséria da alma encontra-se com o Deus da Misericórdia.
Diz às almas que, dessa fonte de Misericórdia, as graças são colhidas apenas com os vasos da confiança.
Se a confiança delas for grande, a minha Generosidade não terá limites.
As torrentes da minha Graça inundam as almas humildes.
Os orgulhosos sempre estão na pobreza e na miséria, porquanto a minha Graça se afasta deles para as almas humildes».


E Santa Faustina continua no seu Diário:
"Quero recomendar três coisas à alma que deseja decididamente buscar a santidade e dar fruto, ou seja, tirar proveito da Confissão.

Em primeiro lugar: Total sinceridade e franqueza.
O mais sábio e o mais santo confessor não consegue derramar na alma, à força, aquilo que deseja, se a alma não for sincera e franca.
A alma insincera e reticente expõe-se a grandes perigos na vida espiritual, e o próprio Senhor não se comunica a essa alma num nível mais elevado, porque sabe que ela não tiraria proveito dessas graças especiais.


"Em segundo lugar: Humildade.
A alma não tira o devido proveito do Sacramento da Confissão se não for humilde.
O orgulho mantém a alma nas trevas.
Ela não sabe e não quer penetrar devidamente no fundo da sua miséria; esconde-se atrás duma máscara, evitando tudo o que a pode curar.


"Em terceiro lugar: Obediência.
A alma desobediente não terá nenhuma vitória, ainda que o próprio Nosso Senhor a ouvisse directamente em Confissão.
O mais experiente confessor em nada poderá ajudar a uma alma de tal maneira.
A alma desobediente expõe-se a grandes desgraças, não podendo progredir na perfeição, nem na vida espiritual.
Deus cumula generosamente de graças a alma, mas só se ela for obediente".


A Confissão é um sacramento de Misericórdia, mas é necessário que nos aproximemos dele com muita confiança e serenidade.

Quanto maior for a nossa confiança, maior será a nossa alegria e a nossa paz.
Há, porém, um defeito que pode comprometer tudo isso, transformando o que seria uma fonte de paz num verdadeiro tormento: É o escrúpulo.

Há quem olhe o escrúpulo como uma virtude e o confunde com a delicadeza de consciência.
O sábio e piedoso Gerson diz que uma consciência escrupulosa prejudica muitas vezes a nossa alma, ainda mais do que uma consciência elástica e relaxada.
O escrúpulo exagerado falseia o julgamento, perturba a paz da alma, gera a desconfiança e o afastamento da vida sacramental, alterando a saúde da alma e do corpo.
Quantos infelizes começaram pelo escrúpulo e terminaram pela demência!
E quantos outros, mais infelizes ainda, começaram pelo escrúpulo e acabaram pela libertinagem e pela impiedade!
Foge, pois, desse temível veneno impiedoso, dizendo com S. José Cupertino:

«Para trás as tristezas e os escrúpulos; não quero saber deles em minha casa».

O escrúpulo exagerado é um temor infundado de haver pecado.

Mas o escrupuloso não julga serem simples escrúpulos as suas dúvidas e temores:
Ele não se atormentaria, se pudesse qualificá-los como tais.
Ele deveria, no entanto, dar crédito ao seu Director espiritual, quando este lhe dá normas para seguir.
O escrupuloso só vê em suas acções uma série ininterrupta de pecados; só vê em Deus vingança e cólera.
Portanto, que ele se habitue a considerar, sobretudo no Divino Mestre, o atributo que Lhe é mais caro: a Misericórdia.
E que faça disto o assunto habitual dos seus pensamentos, das suas meditações e dos seus afectos.
É preciso fazer tudo por amor, nada constrangido; é preciso amar mais a obediência do que temer a desobediência.
O único remédio para os escrupulosos é uma obediência total e corajosa.

É um orgulho secreto, diz S. Francisco de Sales, que nutre e sustenta os escrúpulos; porque o escrupuloso se aferra ao seu juízo e à sua inquietude, apesar dos avisos em contrário do seu Director espiritual.
Ele persuade-se sempre, para dissimular a sua desobediência, que sobreveio um caso novo e imprevisto, para o qual seriam inúteis esses avisos.
Obedeça, portanto, sem fazer outro raciocínio senão este:
"Devo obedecer", e assim será livre dessa terrível enfermidade.

A tristeza e a inquietude dos filhos de Deus é uma grande injúria que fazem ao seu Pai Celeste, parecendo dizer com isso que acham pouca doçura em servir a um Senhor tão cheio de Amor e Misericórdia; parecendo querer desmentir as palavras d'Aquele que disse:

«Vinde a mim, vós todos que estais aflitos e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei!»; comparando-se ao bom lavrador que escolhe para os seus bois "um jugo que lhes seja suave e um fardo leve".

"Ai da alma mesquinha e árida que tudo teme, e que, à força de temer, acaba por não ter tempo de amar e correr generosamente!

Ó meu Deus, sei que quereis um coração vasto, quando este coração Vos ama.
Agirei com confiança, como uma criancinha que brinca nos braços da sua mãe; regozijar-me-ei no Senhor e procurarei alegrar também os outros, expandindo o meu coração sem temor...
Longe de mim, ó meu Deus, essa sabedoria triste e temerosa que paralisa, e que traz sempre nas mãos a balança para pesar átomos...
Não agir com mais simplicidade Convosco, é injuriar-Vos; semelhante rigor é indigno das Vossas entranhas de Pai" (Fenelon).

E acabam entregando-se realmente ao mal, porque não têm a simplicidade de acreditar ser possível a Nosso Senhor a vitória de que se sentem incapazes.
Que eles se aproximem desse Jesus tão bom, que nos prometeu, junto de Si, "o repouso para as nossas almas".

Note bem que eu disse "Confissão bem feita", isto é, com boas disposições do penitente e total sinceridade.

E uma das formas mais frequentes de "confissão mal feita" é calar determinado pecado na confissão, por vergonha ou por medo.



Conta-se que S. Filipe Néri tinha uma grande amizade por determinado garoto.

Aconteceu que esse garoto adoeceu gravemente, e o Santo teve a revelação da sua morte próxima.
Pediu então à família que o chamasse, quando estivesse próximo da morte, pois queria prepará-lo bem para o último combate.
Agravando-se o estado do menino, o pai mandou avisar a S. Filipe.
O Santo não foi encontrado naquele momento, e o recado ficou com um dos padres da sua Congregação.

Entrementes, o menino faleceu.

Quando o Santo recebeu o recado e correu à casa do garoto, já o encontrou cadáver.
S. Filipe ajoelhou-se ao pé da cama, orou fervorosamente durante um certo tempo; depois, aspergiu com água benta o corpo do menino e colocou algumas gotas da água na sua boca.
Colocou-lhe a mão no rosto, e chamou-o pelo nome, com voz forte.
O garoto mexeu-se na cama, como se estivesse acordando dum profundo sono, abre os olhos, e vendo S. Filipe, exclama:

"Padre! Que bom que o senhor veio! Tenho um pecado e quero confessar-me".
S. Filipe pede que se esvazie o quarto, pega num Crucifixo e ouve a confissão do menino.
Chama em seguida toda a família e põe-se a conversar com o ressuscitado sobre o Céu e a felicidade dos eleitos.
E a conversa prolonga-se por mais meia hora, como nos bons tempos de saúde do menino.

Finalmente, o Santo pergunta-lhe se queria ir para o Céu.
"Mas é claro, Padre!" -- responde o menino.
E S. Filipe diz-lhe: "Vai em paz, meu filho, e roga por mim!"
O menino fecha suavemente os olhos e torna a morrer.
O quarto do garoto converteu-se em capela, e até hoje é visitado com veneração por muita gente.

Um comentário:

  1. É realmente dignificante este Sacramento. Quisera que todos que a ele recorre,o fizesse com muita sinceridade para dela tirar grandes proveitos e ter uma vida de paz.

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